Clayton Alexandre Zocarato: ‘(Re)encontrando velhos amigos’
A festa de aniversário de um dos velhos amigos foi um evento e tanto para uma velha confraria de adolescentes que estavam já em meia idade, mas que ainda tinham força para desafiar os desejos do tempo perante seus problemas físicos e mentais.
Um dos amigos reclamava de fortes dores nas costas causadas por hérnia de disco, o que o levava para muitas horas na academia e, depois, o deixava exaustado para trabalhar em seu escritório de advocacia, que contava com um bom número de clientes.
Outro amigo, que era bancário, havia perdido a mãe fazia algumas semanas, mas era um dos mais animados para aquela sessão de ficarem relembrando de tempos passados, quando se perdiam em noites afins na antiga danceteria da cidade. Sofria com alguns problemas crônicos de saúde , como uma tosse crônica, por ter praticamente ter fumado tudo quanto foi marca de cigarro barata na juventude. “Era o que dava para comprar na época”… dizia, com certo sarcasmo.
Já o outro sofria com uma ansiedade, que tinha que ser controlada com fortes medicamentos ‘tarja preta’, mas que não impedia de tomar suas cachacinhas, sempre que podia ficar longe dos olhares atentos, tanto de sua mãe, como de seus alunos do Ensino Médio.
Esses eram os principais membros desse doce ‘(re)encontro’, que muito provavelmente teria as mesmas conjecturas comportamentais desde a última vez que tiveram juntos.
Não haveria uma nova história para se narrar, tampouco uma nova história em ser contada, que viesse angariar algum frisson notório…
Mas o que realmente importava é que os três velhos amigos da adolescência estavam ali para curtir, dentro do possível, velhas afinidades que tinham sido meio que apagadas com o tempo e o ritmo frenético de suas vidas empregatícias.
Mas dessa vez, a festa de aniversário tinha como foco principal um estranho sistema de diversão, onde boa parte dos convidados havia trazido jogos, que assim viesse a manipular por algumas horas uma realidade que não fosse a melhor para todos, era ao menos louvável de esperança para muitos de seus convidados.
E assim, quando todos chegaram a casa, que ainda estava em construção, com alguns alicerces a mostra, se passaram um bocado de momentos se entorpecendo de Coca-Cola e carne assada, para depois armarem sua mesa board games, para assim darem inicio a uma jogatina que praticamente não teria horário para acabar.
Um dos amigos, (o mais introspectivo de todos e todas), quanto a se deixar seduzir pelo vício, estava de certa forma ficando entediado, em somente ouvir a respeito de campeonatos de jogos de mesa, pelas quais não fazia a menor questão de participar, pois tinha outros anseios em sua mente, como em terminar os artigos que escrevia para diferentes meios de comunicação.
Até que, entre tantas pessoas, com as quais tinha pouca afinidade, começou a conversar com uma das convidadas, esposa de um dos amigos, do seu amigo aniversariante.
Ai sim, esse ‘camaleão’ no meio do senso-comum do divertimento se sentiu valorizado, pois começaram a discutir ideias acerca de neurociências, pedagogias e metodologias a serem desenvolvidas dentro da sala e aula.
Ela também era professora.
Foi um bate-papo e tanto, e o ‘(re)encontro’ dos amigos se tornou um afluente colcha de diálogos que estava sendo disseminada em polivalentes naipes, de que não adianta em determinados momentos continuar insistindo em comiserar atitudes mentais que venham a transpor hábitos tecnicistas, que enquanto muitos querem a multidão para exaustão, muitos querem a solidão para sua reflexão.
A conversa em certo momento estava fazendo com que o ‘senso comum’, de algumas pessoas ficasse mais apurado, e enquanto aconteciam rodadas e mais rodas das mais variadas tipologias de board games, os dois novos conhecidos continuavam alegremente a troca mútua de informações.
Para esse amigo, depois dessa conversa, é que a festa tinha de fato começado, imiscuindo novas maneiras em como ‘ser uma dialética ambulante’ em poder ensinar, como aprender, não ficar unicamente somente à mercê de um ‘mundo de fantasia’, que estava contra sua lógica filosófica, em tentar encontrar alguém que pudesse discutir acerca tanto de ‘quibe a sutiã’.
Antes de se iniciar esse diálogo ficava de minuto a minuto olhando o celular, e seu relógio de pulso, almejando descobrir ou criar alguma desculpa para ir embora.
Não que se sentisse excluído, mas se sentia ‘um peixe fora d’água’ em meio a uma bagatela de assuntos, que sabia que assim que deixasse aquele recinto de pessoas queridas não lhe serviria, provavelmente, mais para nada.
Depois desse diálogo intelectualizado, de tanto insistirem aceitou jogar um pouco mesmo que bem a contragosto, e, de certa forma, acabou por se alegrar um pouco naqueles momentos derradeiros do ‘(re)encontro dos velhos amigos’.
Refletindo depois que foi embora da festa, ‘ele’ bem sabia que teria que se esforçar e muito para não viver só de saudade, encarcerado psicologicamente em um tempo que já tinha se ido embora. Ou aceitar os ritmos de estar só, ou adentrar em um mundo comportamental que abominava intrepidamente?
Bem sabia que tudo o que tinha lido e escrito, teria que em muitos momentos ficar só para si mesmo e não compartilhar, para não ‘ser taxado de lunático ou doido’.
Mas aquele ‘(re)encontro’, no final das contas foi bacana, serviu para aguçar um pouco sua saúde mental, e para colher novos fronts intelectuais, de um estrutura social de se reaver perante o universo social que estava inserido.
Sim! O amigo professor, era diferente das outras pessoas, e como castigo por sua escolha profissional, sabia que não adiantaria ficar insistindo em explicar quais eram seus prazeres e hobbies.
Poucos entenderiam, e também estava sujeito a sofrer um pragmático julgamento, (como ocorreu nos tempos em era mocinho) de esquisito e estranho.
No caminho de volta a casa, em meio à fria e leve garoa, ficou pensando consigo mesmo… – Haverá novos ‘(re)encontros’, assim como novas pessoas a dialogarem com o ‘nerd aqui‘, assim como também haverá a repetição das mesmas conversas pelas quais evito constantemente participar…
Respirou fundo e concluiu o raciocínio…
– Assim é a vida de quem pensa, ‘fora da casinha’... demonstrando um leve sorrisinho de ironia.
– Termina praticamente refém do seu próprio conhecimento.
Clayton Alexandre Zocarato
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