Celso Lungaretti: 'O 'FORA TEMER!' não passa de uma aposta na continuidade do capitalismo e da democracia burguesa, apenas substituindo-se as forças políticas que cumprirão o papel de serviçais momentâneas da classe dominante'

 

 CELSO LUNGARETT: ‘2017:
UMA GREVE GERAL COM O FOCO ERRADO E CONTRA O MERO PREPOSTO DO INIMIGO’

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Relembrei aqui a heroica e sangrenta greve geral de 1917 porque era inescapável a comparação com isso que está ocorrendo quase um século depois; assim como era inescapável que nos viesse à mente a frase célebre de Karl Marx no 18 Brumário de Louis Bonaparte.

tragédia ficou bem caracterizada no assassinato de algo entre 18 operários (como então escreveu O Estado de S. Paulo) e cerca de 100 operários (como saiu no autoproclamado jornal dos italianos no Brasil, o Fanfulla).

Farsa é marcar uma greve geral em véspera de feriado prolongado e com paralisação dos transportes coletivos, de forma que jamais saberemos quem realmente deixou de trabalhar por discordar das reformas trabalhista e previdenciária do Temer; quem o fez apenas para desfrutar de mais um dia de repouso e lazer, aproveitando o pretexto que lhe foi oferecido numa bandeja; e quem foi simplesmente impedido de chegar no serviço.

Também é deplorável que, enquanto os titãs de 1917 sabiam exatamente o que queriam e estavam lutando pelo que era necessário e justo, hoje tanta gente esteja sendo iludida por uma retórica enganosa que se faz de rebelde mas é intrinsecamente conformista.

Vale citar Clóvis Rossi, um oásis de lucidez em meio a tanto besteirol das Marias vão com as outras:

…não me entusiasmo com a crítica às reformas quando elas soam como mera defesa do status quo, seja nas relações trabalhistas, seja na Previdência.

Desde que o capitalismo foi inventado, as relações trabalhistas são desequilibradas em favor do capital e em detrimento do trabalho.

Uma reforma trabalhista digna do nome teria, portanto, que tentar equilibrar melhor as coisas. Não é o que estabelece a reforma de Temer nem é o que se consegue com o status quo (a CLT).

…Em 2015, após 13 anos portanto de governos supostamente pró-pobres, o Brasil estava assim: entre os 10 países mais desiguais do planeta e com 73 milhões de pobres, pessoas com renda mensal de até meio salário mínimo.

É mais de um terço da população. Não são números do governo Temer, mas do governo Dilma…

Ou, posto de outra forma, com greve, espontânea ou forçada, ou com as reformas de Temer, o Brasil vai continuar sendo essa lamentável mediocridade, esse depósito de pobres e essa obscena desigualdade.

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O QUE É CERTO PARA O CAPITALISMO, É INJUSTO
AO EXTREMO PARA OS SERES HUMANOS.

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A reforma trabalhista pouco conseguirá piorar o que já é péssimo desde que a esquerda assistiu com inacreditável passividade à escalada da terceirização no Brasil, que transformou os iguais em concorrentes, minou a solidariedade de classe e golpeou duramente o sindicalismo.

Perde a pelegada com o fim do imposto sindical, mas nós, o que de mais importante tínhamos para perder, já perdemos décadas atrás.

Quanto à reforma da Previdência, é mesmo monstruosa, como eu escrevia quando eram Dilma Rousseff e seu ministro neoliberal Joaquim Levy os que tentavam impô-la aos brasileiros, prostrando-se às imposições do grande capital (lembram?).

Mas, a alternativa à dita cuja jamais foi a manutenção de um status quo que se tornou inviável. Basta sabermos as quatro operações aritméticas (e não fazermos batota!) para chegarmos à conclusão de que, com os contribuintes da Previdência se reduzindo em função da terceirização e da diminuição do emprego enquanto a duração da vida dos aposentados é cada vez maior, o desequilíbrio entre receitas e despesas, daqui para a frente, só fará aumentar, até o castelo de cartas desabar de vez.

Então, sob o capitalismo e seguindo a ortodoxia capitalista, certa é tal reforma monstruosa e errados estão os demagogos que tentam, com contorcionismos de todo tipo, provar que ainda exista alguma saída para a Previdência na atual ordem das coisas.

Mas, o que é certo para o capitalismo, é injusto ao extremo para os seres humanos. Por que consentirmos em sermos sacrificados no altar da ganância e da desigualdade social? Por que aceitarmos que o acerto da contabilidade seja mais importante do que a felicidade, a saúde e a própria vida das pessoas comuns?

A alternativa à Previdência extremamente insatisfatória que ora existe e à monstruosa que se tenta implantar é o oferecimento incondicional do suficiente para os inativos satisfazerem suas reais necessidades e terem existências dignas.

Isto será totalmente exequível se reorganizarmos a sociedade estabelecendo o bem comum como prioridade suprema, ao invés do lucro.

Infelizmente, uma esquerda desvirtuada, que tem mais paúra da revolução que o diabo da cruz, tudo faz para manter o status quo, inclusive convocando greves gerais com foco errado e contra o mero preposto do inimigo.

fora Temer! não passa de uma aposta na continuidade do capitalismo e da democracia burguesa, apenas substituindo-se as forças políticas que cumprirão o papel de serviçais momentâneas da classe dominante. Resumindo, trata-se de uma receita certa para prosseguirmos patinando sem sair do lugar.




Carlos Carvalho Cavalheiro: 'A greve geral'

Carlos Carvalho Cavalheiro: ‘A greve geral’

A greve sempre foi um dos instrumentos históricos de combate mais utilizados pelos trabalhadores na luta pela conquista – e manutenção – de direitos. No Brasil, ainda no século XIX, registram-se as ocorrências das primeiras paralisações de trabalhadores. Em Sorocaba, por exemplo, a primeira greve ocorreu em 1885 quando os pipeiros (carroceiros que abasteciam a cidade com água em tonéis pipa) reclamaram do fato de o Poder Público impedi-los de retirar água de determinado ponto do rio Sorocaba.

Com o passar dos anos, a greve se tornou um dos mais eficazes meios de obtenção de negociação entre empregadores e empregados. Em certa medida, o seu uso constante desgastou a imagem e prejudicou a eficácia de tal ferramenta. Tempos outros em que a especialização das funções diminui a força e a importância das organizações de trabalhadores.

Por esse motivo, a busca do caminho inverso, qual seja o da união de diversas categorias, tem apontado uma luz no fim do túnel. Longe das discussões das peculiaridades de cada função ou atividade, que sempre serviu para afastar os trabalhadores, a conjuntura muitas vezes faz brotar um brilho de razão nas mentes, esclarecendo que a despeito de onde estamos posicionados, se na proa ou na popa, o fato é que todos nós estamos dentro do mesmo barco. Se a embarcação afunda, afogam-se os que nela estão.

É um pouco dessa consciência que parece ter surgido entre as diversas organizações sociais e de trabalhadores ao propor uma Greve Geral nesta sexta-feira, dia 28 de junho.  Dessa vez a Greve se faz em protesto às reformas Trabalhista e da Previdência que apontam um futuro – se é que existirá – tenebroso para todas as categorias de trabalhadores. As propostas, como a terceirização a todas as atividades e a vergonhosa proposta de aumento da idade mínima para aposentadoria, atingem a todo e a qualquer trabalhador. Amplos setores da sociedade, que inclui a Igreja Católica, Centrais Sindicais, CNBB, Sindicatos e movimentos sociais já anunciaram a adesão ao movimento.

Sobre a Reforma de Previdência, por exemplo, o governo alega a existência de um rombo que impossibilitaria o pagamento futuro de todas as aposentadorias. O jornal O Globo noticiou: “A Previdência registra rombo crescente: gastos saltaram de 0,3% do PIB, em 1997, para projetados 2,7%, em 2017. Em 2016, o déficit do INSS chega aos R$ 149,2 bilhões (2,3% do PIB) e em 2017, está estimado em R$ 181,2 bilhões. Os brasileiros estão vivendo mais, a população tende a ter mais idosos, e os jovens, que sustentam o regime, diminuirão”. Como solução proposta pelo governo, a idade mínima para aposentadoria deverá ser elevada: “O relatório final da comissão da Reforma da Previdência fixa idade mínima para requerer aposentadoria – 65 anos para homens e 62 anos para mulheres – e acaba com a possibilidade de aposentadoria exclusivamente por tempo de serviço no INSS” (http://oglobo.globo.com/economia/reforma-da-previdencia-entenda-proposta-em-22-pontos-19744743).

Por outro lado, o advogado Plauto Holtz postou nas redes sociais, em 16 de março, um comentário – não fica claro se dele ou de outra pessoa – em que argumenta que o referido “rombo” da Previdência não existe e que o Governo propositalmente deixa de contabilizar arrecadações (como PIS e COFINS) das quais são extraídas porcentagens que compõem o fundo da Previdência. De acordo com essa publicação, até mesmo em contas de água, luz, energia, ou em atividades como jogar na loteria ou assistir a uma partida de futebol profissional em estádio, ou mesmo construção ou reforma, há recolhimento de contribuição à Previdência. Também de acordo com essa publicação, há uma retirada mensal de 20% do fundo de Previdência para atender a outras pastas do governo.

Desse modo, e sem que se tenha de fato a transparência dos números, é legítimo e moral que o povo se levante contra as reformas. Afinal, esse mesmo povo já se cansou de ver pela televisão a avalancha de escândalos de corrupção e desvios, cujos valores ultrapassam sobremaneira o suposto rombo da Previdência.

Os industriais brasileiros, por meio de sua entidade de classe, a FIESP, lançaram a campanha de “não pagar o pato”, diante da crise econômica que começava a assolar o país. É justo que agora os trabalhadores digam um sonoro “Basta!” aos desmandos e à tentativa de fazer com que o povo pague novamente a conta dos banquetes da corja de parasitas que controlam o Brasil.

Este ano, no dia 9 de julho, será comemorado o centenário da Primeira Greve Geral do Brasil, que paralisou a cidade de São Paulo e, depois, estendeu-se por outras cidades. Naquela época, os trabalhadores conquistaram suas reivindicações. Que possamos ter a mesma sorte. Que tenhamos a mesma coragem dos nossos antepassados para que façamos jus ao mesmo sucesso que eles tiveram há cem anos.

 

Carlos Carvalho Cavalheiro

26.04.2017