Cultura: expoente máximo da pessoa humana

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo:

‘Cultura: expoente máximo da pessoa humana’

Diamantino Bártolo
Diamantino Bártolo
Imagem criada por IA no Bing - 23 de fevereiro de 2025, às 15:46 PM
Imagem criada por IA no Bing – 23 de fevereiro de 2025,
às 15:46 PM

Pelo estudo do folclore e da etnografia, melhor se pode compreender o passado que, é parte de toda a pessoa; raiz da existência humana; e suporte de uma cultura, neste caso, a portuguesa, a qual se revela no modo de vida de um povo, na sua forma de agir, sentir e pensar, com base num conjunto de princípios, valores, sentimentos e práticas, e que estão adequados à persecução de um ideal.

O homem português tem que, face aos poderosos meios científicos e técnicos ao seu alcance, assumir a sua cultura, com tudo o que ela comporta, sem vergonhas, nem complexos, retirar do esquecimento as suas seculares tradições, recapitular o mundo antigo, antecipar para o futuro o classicismo greco-romano, do qual, e de resto, nasceram valores inestimáveis, nomeadamente: a Honra, o Respeito, o Humanismo, o Direito, a Justiça, a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade, entre muitos outros, hoje tão ignorados, ou ridicularizados, ou pelo menos, não assumidos.

Neste caso, todos aqueles grandes princípios, valores e sentimentos que, o Cristianismo, entre outras religiões, encerra, consubstanciados no Amor, na Verdade, na Solidariedade, na Lealdade, na relação antropológica do “Eu-Tu”, sob a Luz de um Ser Absoluto e Supremo, que de facto tudo fundamenta, é que dão esta dimensão inigualável da pessoa verdadeiramente humana.

Apesar do que fica escrito, a cultura portuguesa não está, ainda, completamente degradada, porque os cidadãos, inseridos numa civilização do tipo ocidental, conseguem, não obstante os vários movimentos supernacionalistas, manter uma certa referência ao passado, e uma distinção em reação a outros tipos civilizacionais e, como que “renascendo das cinzas”, mostrar aos parceiros internacionais um valioso património cultural, com base no sentimento emocional que carateriza a cultura portuguesa.

Esta cultura nacional é um processo de valorização do humano, mais de formação de caráter do que transmissão de saberes, dentro de um rigoroso conceito de humanismo, através da arte, da literatura, da filosofia e do vasto leque das outras ciências sociais e humanas.

Exatamente, dentro deste espírito, parece lógico e razoável que os governantes portugueses, independentemente das ideologias político-partidárias, dinamizem todo um processo educacional, em ordem à assunção dos valores mais tradicionais, e também em relação à salvaguarda dos princípios universais aceites pelo conjunto das nações.

Nesse sentido, justificam-se, plenamente, a desilusão, praticamente generalizada, sobre a desvalorização que certas disciplinas vêm tendo nos currículos do ensino em Portugal. A pouca carga horária, por exemplo, atribuída à disciplina de Filosofia, provoca, seguramente, uma certa “acefalia” no pensamento português, reduzindo a pessoa a uma mera máquina do sucesso material, robotizando-a naquilo que ela tem de mais profundo e livre que é o seu próprio pensamento, o seu “Eu”, a sua capacidade crítica, afinal, parte integrante da cultura.

É indubitável que, nas horas mais difíceis, deve triunfar a parte melhor que existe dentro da pessoa verdadeiramente humana, mas para que tal se verifique ela deve possuir formação humanística, deve ser culta e, na posse destes dois elementos, ela será, obviamente, solidária, amiga, leal, compreensiva, tolerante, inteligente, encontrando as soluções corretas e justas, para os problemas mais delicados.

O homem sem cultura é como um prisioneiro de preconceitos absurdos, isolado do seu contexto histórico, cultural, social e também religioso. A Cultura dá esperança ao homem e esta é a “última a morrer”, constituindo, por isso mesmo, uma saída para as crises, e para a projeção de um futuro mais promissor, porque sem esperança o homem não tem destino, não idealiza um projeto de vida, e jamais alcançará a felicidade suprema da realização pessoal, enquanto pessoa humana, de deveres e direitos, enquanto “animal de cultura”, dotado de inteligência e vocacionado para as mais elevadas realizações ecuménicas.

Venade/Caminha – Portugal, 2025
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

Voltar

Facebook




Religião: fortifica e solidifica a pessoa humana

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo: Artigo ‘Religião: fortifica e solidifica a pessoa humana’

Foto do autor do texto, o colunista Diamantino Bártolo
Diamantino Bártolo

O ser humano que alcança os sentimentos e os valores: do amor, da felicidade e da paz, eventualmente entre outros, também eles fundamentais, certamente fica dotado de um poder que nenhuma outra via lhe proporciona. O poder religioso fortifica e solidifica, quem o possui, nos sentimentos da confiança e da esperança, sem os quais será difícil evoluir para uma sociedade verdadeiramente humana, fundamentalmente, quando se perde o amor pelo Deus que tudo cria, controla e extingue.

Será pela confiança em si, e no seu Deus, e pela esperança que ELE incute, através do amor, que o homem alcançará a felicidade e a paz, porque: «O verdadeiro e perfeito amor se mostra nisto: que se tenha grande esperança e confiança em Deus; pois só na confiança se sabe que há um amor verdadeiro e total, pois se alguém ama outrem de todo o coração e com toda a perfeição, surge a confiança; pois tudo quanto se ousa esperar de Deus, nele verdadeiramente se encontra e ainda mil vezes mais.» (ECKHART, 1991:119).

O poder que resulta da atitude religiosa, suportado: na confiança, na esperança e no amor, permite: ao indivíduo humano, em particular; e à sociedade, e geral, a partir de uma vida dedicada, também aos valores religiosos, alcançar situações de: verdadeira paz, felicidade inebriante e realização plena, porque: «A religião está assim implicada no mais íntimo da vida do espírito; mais ainda, é a plenitude da vida da pessoa, colocada como está no termo mesmo de suas dimensões contemplativa e prática – donde elas se conjugarem na atitude de reconhecimento, adoração e submissão à Pessoa Divina, Causa primeira e Fim último do ser da pessoa e de todo o ser criado.» (DERISI, 1977:53).

 Podem a ciência, a técnica e todo o materialismo humano produzir os mais sofisticados bens: dos supérfluos aos indispensáveis; da ostentação à miséria; do domínio à subjugação, sem que isso signifique a resolução de todos os problemas, ou o agravamento dos mesmos, respetivamente.

A pessoa, a família, a sociedade, que transportam consigo confiança, esperança e amor, possuem um poder que nenhuma outra arma, ou sistema bélico, conseguem destruir, porque aqueles sentimentos, já são próprios de um ser superiormente dotado, preparado para, mesmo no sofrimento e na derrota material da vida físico-social, continuar a lutar pelo objetivo último que se há de concretizar numa vida espiritual, repleta de certezas divinas, da união a Deus, onde todos os sofrimentos, injustiças e humilhações cedem o lugar a uma vida eterna, tranquila, justa e digna.

É este poder que alimenta e dá coragem para enfrentar, num mundo materializado, as dificuldades, os obstáculos, os ódios, as vinganças e traições, que uma pequena minoria tenta impor, à maioria generosa e de boas pessoas.

 É este poder que resulta de uma confiança sem limites, de uma esperança sempre renovada, e de um amor cada vez mais consolidado, que permite que multidões anónimas, periódica e ciclicamente, se dirijam aos lugares sagrados, justamente para agradecer, e pedir a Deus, a satisfação de necessidades básicas: Graça Divina, saúde, trabalho, amor, paz e felicidade.

Nenhum outro poder entusiasma e mobiliza tantas pessoas como o poder de Deus, configurado na Religião que cada um abraça e comunga, sempre com uma confiança e esperança renovadas, precisamente, no amor ao seu Deus.

Em bom rigor, tudo indica que: «A chave da existência humana é o impulso religioso inato que brota da vida essencial universal e a ela aspira retornar. Isso é verdade hoje e o tem sido através da história humana. Os humanoides não se teriam tornado humanos sem a inteligência, mas somente o sentimento religioso poderia tê-los capacitado a desenvolver a inteligência e outras capacidades mentais ou espirituais associadas à nossa espécie. » (IKEDA, 1982:222).

Bibliografia

DERISI, Octávio Nicolás, (1977). Valores Básicos para a Construção de uma Sociedade Realmente Humana, Tradução, Alfredo Augusto Rabello Leite, São Paulo: Mundo Cultural.

ECKHART, Mestre, (1991). O Livro da Divina Consolação e outros textos seletos. Tradução, Raimundo Vier, O.F.M. et al, 2ª Ed. Petrópolis: Vozes.

IKEDA, Daisaku, (1982). Vida: Um Enigma, Uma Jóia Preciosa. Tradução, Limeira Tejo, Rio de Janeiro: Editora Record.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

Contatos com o autor

Voltar: http://www.jornalrol.com.br