Com as pedras que encontrei no meu caminho, ergui um Forte, não por medo ou egoísmo, mas por bondade, para abrigar quem precisava de mim.
As muralhas do meu refúgio, cravei de espinhos de amor, respeito e gratidão, para ferir os inimigos que trazem no peito o rancor, o desprezo e o cinismo.
Se ousassem me atacar, cairiam sem dó nem perdão!
Os invejosos quiseram copiar a minha fortaleza, mas não conseguiram, pois ela é única e especial. Ela nasce com a luz da manhã e dorme com a noite bela. Ela é o meu lar, o meu sonho, o meu ideal.
Para muitos, era apenas mais um dia em que a pátria ficará mais velha. Os bares da rua: Delfinópolis, na cidade Seródio, já estavam cheios. Homens e mulheres tomavam uma loira redonda e bem gelada. Num ritual estranho, realizado em toda data comemorativa.
As esquinas de todas as ruas estavam cheias de pessoas segurando bandeiras com rostos variados, e a mesma frase clichê: o melhor para Guarulhos. Outro ritual estranho que se repete de tempo em tempo.
Após passar à noite inteira percorrendo o terminal de cargas e atendendo clientes no seu ambiente de trabalho, Nicolas chega em sua casa inteiramente moído. O rapaz quer apenas banhar-se, tomar um café da manhã bem reforçado e iniciar uma conversa no Zap com Luna. Conversa essa, que fora adiada devido um roubo que ele sofrera no coletivo: 552 no mês passado, onde levaram o seu celular.
‘Lobo’, como era chamado carinhosamente por Luna. envia uma mensagem para sua amada:
– Bom dia, my love! Como estás? – O rapaz, aflito, aguarda alguns minutos a resposta de sua metade.
– Bom dia, meu amor. É mesmo você?! – responde Luna, apaixonada e desconfiada.
– Claro que sou eu, minha menina deusa – retorna Nicolas, aliviado.
O casal apaixonado conversa por meia hora, tentando matar a saudade, que parece vir de outras vidas. Contudo, o diálogo pelo aplicativo parece não bastar. E a melhor solução para essa distância seria construir uma ponte que aproximasse essas duas almas afins. E foi o que Luna fez, ao passar o endereço de sua casa, para seu ‘Don Juan’.
‘Lobo’, com o coração a mil, vestiu a primeira roupa que viu pela frente, passou um perfume suave e correu para o ponto de ônibus mais próximo de sua casa, pois, como era feriado nacional, os coletivos demoravam muito para passar. E após ficar quarenta minutos dentro de um ônibus, quase uma eternidade, Nicolas chega no local marcado. Qual o nome da rua? O garoto não sabe, pois só lembrava do ponto de referência dado por sua amada: hospital padre Bento, de frente para um ponto de táxi.
E ao chegar no lugar do encontro, seu coração só faltou saltar pela boca, pois, ainda dentro do veículo, ele viu Luna, que o esperava ansiosamente no portão. Era impossível não ver de longe aquelas curvas divinas num vestido cinza curto. Os olhos famintos do guará estavam tão cegos de amor e saudade, que ele quase caiu ao descer do busão. Nenhuma palavra fora proferida naquele momento. Apenas olhares seguidos de um longo abraço foi o que ficou no ar.
A casa onde Luna morava com o irmão e a cunhada lembrava um pequeno cortiço. Tinha várias casas no mesmo quintal. Mas o que realmente importava era que, finalmente os dois estavam a sós. E poderiam não só matar a saudade, como também, o desejo voraz do corpo e da alma.
E como se fosse um iniciante na matéria de amar, Nicolas não acreditava em tudo aquilo que estava acontecendo. De repente, se viu deitado ao lado de uma verdadeira deusa Maia, como sempre imaginou que seria. Porém, dessa vez era tudo muito real. E não mais na tela do seu smartphone.
Como era de se esperar, o canídeo faminto de amor e querendo cumprir tudo aquilo que sempre prometera para sua amada à distância, não conseguiu se conter. Quando foi tentar segurar mais um pouco, era tarde demais. Sentiu apenas o seu prazer jorrar precocemente, deixando aquela deusa no corpo de mulher queimando de um prazer astral. E após tentar achar uma explicação para o ocorrido, o ‘guará negro e vermelho de vergonha, resolveu calar-se. Insatisfeito e desapontado com seus fracos resultados, pediu para ir ao banheiro. Que
Queria tomar uma ducha na expectativa de que tudo se resolvesse. Banho tomado, era hora de deixar o placar igualado. Tentaram começar tudo outra vez, mas não foi possível. Mesmo com todos os métodos usados por aquela cabrocha, não foi possível a realização de um segundo tempo.
Feito um animal moribundo. O mortal rapaz, com seu instinto másculo ferido, não percebeu que rolavam de suas retinas algumas gotas de tristeza e frustração. Sua alma chorava naquele momento, sentindo a gravidade das poucas horas de intenso amor.
Agora, a única certeza que sondava a mente do pobre canídeo era de que ele não era mais um macho alfa, mas sim, uma mera raposa. E como tal bicho, lembrou-se que o irmão de sua amada viria do trabalho para casa. Na intenção de evitar outro constrangimento, vestiu suas roupas e disse baixinho:
– Deixe-me ir, preciso andar. A nobre ‘Lua’, desapontada com o seu Ogum, quase não quis acompanhá-lo até o portão.
De almas atarantadas, os dois abraçaram-se por uma última vez. Nícolas entrou no primeiro coletivo que viu. Só que dessa vez, não tão entusiasmado como outrora. Tentou falar com Luna mais tarde, porém, não obteve sucesso algum. E ao chegar a casa, sua tristeza só fez aumentar, pois esperavam por ele com um largo sorriso no rosto a esposa Rosa e os filhos Gustavo e Mariana.