Adriana Rocha: "Você escuta o outro ou fica calado?'

Adriana Rocha: ‘Você escuta o outro ou fica calado?’

Conviver é desafiador. Às vezes me parece mesmo um milagre!  São tantas as diferenças que podem gerar desarmonia, que não raramente nos vemos na encruzilhada do rompimento. Isso mesmo: as rupturas são consequências da minha incapacidade de aceitar ou mesmo de entender o quanto o outro é diferente de mim.

Não estou falando de relacionamentos abusivos, perpetrados por sociopatas, psicopatas e demais manipuladores. Estou falando das relações cotidianas, dos encontros familiares, dos contatos com os amigos e em ambientes de trabalho. Estou falando da rotina, que está longe de ser monótona (mas este é tópico para outra conversa).

Tenho estudado o comportamento humano desde que tive noção de que também “sou humana”. Era ainda criança, lá no bairro São Roque, zona rural de Itapetininga, quando percebi o quanto cada pessoa era única, o quanto um era diferente do outro e tão diferentes entre si e também de mim. É claro que eu não conseguia verbalizar a complexidade da minha percepção, mas entendia que havia algo muito interessante para se observar. Não parei mais…

A busca pelo equilíbrio e pelo respeito às diferenças me levou ao Direito, acreditando que lá eu encontraria a Justiça. Por certo aprendi o sentido, ou melhor dizendo, os conceitos de isonomia, equidade e igualdade, mas não logrei êxito em encontrar o ponto ou pontos de conexão entre as pessoas. Afinal, o que nos une se tanto nos separa?

E assim, questionando, conversando e permitindo-me enfrentamentos pontuais e genéricos (autoconhecimento e autoavaliação) cheguei à mediação. Então, o mar vermelho se abriu para mim! Deslumbrada diante da resposta tão óbvia e por isso mesmo tão enigmática (contradições intrínsecas), ousei ouvir!

Para quem fala muito, ouvir é algo secundário (quem teria algo mais interessante ou mais importante a falar do que eu??) e eu, diante de tanta eloquência que a mediação me apresentava, calei-me e me desafiei a ouvir o outro. Até então, no máximo eu ficava quieta, pensando em qual resposta, argumento ou contra-argumento usaria para “derrotar meu oponente” ou para “ter a última palavra”.

Fiquei quieta e ouvi vozes, ideias, ideais e argumentos belíssimos, tão diferentes dos meus, mas que me permitiam entender quem é este outro que convive comigo e quem são os outros com quem quero, preciso e devo conviver. Eu os ouvi sem julgamento e sem preocupação em responder-lhes. Ouvi suas dores, lamentos e clamores!

Entendi que a escuta é muito mais que ficar em silêncio: é compreender que o outro tem suas razões, tão válidas quanto as minhas. Aprendi e ainda estou aprendendo que conversar é valorizar o outro, entender seus textos e contextos.

É um caminho sem volta, mas eu quero mesmo é seguir em frente: ouvindo…