Sônyah Moreira: 'Ética sem Deus?'

Sônyah Moreira: ‘Ética sem Deus?’

                                                                                       

                                                                                                  “Do fanatismo à barbárie, não há mais do que um passo.”

                                                                                                                           (Denis Diderot, filósofo francês,1713 – 1784)

 

Meu caro leitor, hoje nosso tema é sobre religião, moral e fé, assuntos polêmicos. Dizem que religião e futebol não devem ser discutidos; vamos, porém, colocar de uma maneira para ser uma reflexão diante de tempos apocalípticos.

Que fique claro que não estou me colocando nem contra ou a favor de nenhuma denominação religiosa existente, apenas vamos filosofar um tema instigante.

Por diversas vezes associamos religião com moralidade, porém, será que a fé e a religião estão ligadas com condutas morais?

Será que para ser bom e honesto é necessário ser religioso ou ter fé em um Deus supremo e absoluto?

Ética, honestidade e moralidade podem ser coisas intrínsecas com a religiosidade e a crença em um Deus?

No iluminismo (1650-1790), a religião era considerada uma aberração. Esse movimento promoveu as relações intelectuais e foi contra a intolerância da Igreja e do Estado. Porém, como todo movimento teve seu declínio, voltou-se novamente para o romantismo na emoção.

Em toda a história da humanidade muitos morreram em nome da religião, motivo pelo qual temos motivos de sobra para dizer que são aberrações de conduta moral, nada tendo a ver com Deus, haja vista não constar em nenhum documento religioso a conivência de atrocidades em seu nome; o que existe é uma interpretação de textos, ao bel-prazer de quem se apropria deles como procuradores e representantes legais.

Ao referirem-se a alguns princípios das religiões, incluíram o perdão e amor ao próximo, o que não deixa de ser natural, pois se não somos perfeitos, nada mais justo que perdoar seu semelhante. Amor ao próximo! Digamos ser outra banalidade, pois nenhum animal selvagem trucida o de sua espécie. Você já leu alguma notícia que uma matilha de lobos, juntou-se e armou-se contra outra matilha? Destruiu suas casas, aniquilou seus filhotes e fêmeas?

O que dizer então das guerras santas? Suicídios em nome de Deus? Destruição e extermínio de etnias mundo afora, e tudo em nome de Deus! Tudo isso feito pelo homem racional.

As leis de boa conduta, ou seja, honestidade, bondade e ética não foram feitas por um Deus e sim pelos homens; então, por que motivo se associou tudo isso com fé? As religiões pregam que para seguir um caminho reto é preciso ser religioso, ou ser ligado a alguma religião! Como assim, se os animais selvagens não cultuam nenhuma religião?!

Ser correto, honesto e ético deriva da formação de comunidades, que se espalharam com mais rapidez devido à religião, é claro! Mas, para a convivência harmoniosa dessas comunidades necessitou-se a implantação de leis. E quem as fez? Os homens! Sim! Os mesmos homens que justificam seus atos abomináveis contra sua espécie.

Olhando por esse prisma, que diferença fará se preferir ser ateu ou crente?

Obviamente que para dizer-se ateu precisa ter um conhecimento enorme, para que os crentes de plantão com dois argumentos apenas derrubar o ateísmo não fundamentado.

Portanto, deixemos os preconceitos de maneira geral, tanto para com os que alardeiam seu ateísmo, ou os que são carolas de carteirinha.

Em qualquer comunidade encontramos pessoas das duas vertentes, e cada qual com suas convicções de conduta e moralidade que nada tem a ver com suas crenças em deuses ou demônios.

A retidão em seu modo de vida está em seu íntimo, dentro da centelha que nos faz crer que não há felicidade suprema se apenas um de sua espécie tiver condições de sobreviver dignamente.

O ser humano, como máquina magnífica da evolução, somente encontra prazer com seus semelhantes; sejamos, portanto, corretos e éticos em nossas atitudes para com todos à nossa volta, independentemente de nossas crenças ou descrenças.

Somente assim a humanidade deixará de dar o passo do fanatismo. E a barbárie, finalmente, será tão somente um verbete desusado nos dicionários!

 

Sônyah Moreira (sonyah.moreira@gmail.com)