Sônyah Moreira: 'Devaneios'
Sônyah Moreira: ‘Devaneios’
Caro leitor, vamos falar de coisas e sensações que acredito que todos nós sentimos e, por diversas razões, não podemos deixar transparecer.
Na vida, podemos escolher ser qualquer coisa. Dizem os teóricos que os caminhos são traçados antes mesmo de nosso nascimento. Será?
Talvez isso explique alguns fatos que não há como reverter, por mais que nos esforcemos, pois assemelham-se como um limo impregnado em nossos corpos e mentes.
No decorrer de nossas vidas, nos desviamos de algumas coisas, fechamos os olhos para outras; por vezes, ignoramos nossa origem, por vergonha de certos acontecimentos que foram compulsoriamente acorrentados à nossa linhagem.
Porém, por mais que teimemos em esquecer, no íntimo vão estar sempre latentes as dores, os problemas mal resolvidos, os traumas acumulados ao longo de nossa caminhada terrena.
Imaginem um calo se formando com o atrito do calçado, vai chegar uma hora que ficará tão duro que, quem olhar de fora pensará que nada o fará sentir. Ledo engano! No fundo, sempre irá existir a sensibilidade.
Assim é o ser humano, caro leitor; vamos construindo uma carapaça tentando nos proteger, com medo de sofrer, com medo de viver, com medo de sentir.
Nossa história se confunde entre realidade e imaginação; por diversas vezes nos comparamos a heróis de contos de fadas; queríamos ter sua coragem e determinação, quem sabe salvar o mundo de uma catástrofe. Que ilusão! Mal podemos nos salvar a nós mesmos.
Quem dera pudéssemos nos acostumar com tantas desilusões, ficar duro profundamente, sem sentir abalos, acreditar que tudo é transitório, ou pensar que coisas ruins não passam de pesadelos e que logo iremos acordar.
Devaneios! Esse estágio do ser humano, onde podemos nos levar pela imaginação, sonhos e pensamentos profundos; ignorar a realidade, viver em um mundo imaginário onde podemos escolher nossos personagens heróicos, guerreiros e determinados.
A verdade é que não há como viver somente no imaginário; se sairmos um miléssimo de segundo sequer da realidade, corremos um sério risco de não querer mais voltar.
Vamos então tentar melhorar o que foi previamente construido, cortando as arestas, remendando os retalhos, colando os cacos, vivendo, sobrevivendo!
Sônyah Moreira sonyah.moreira@gmail.com