O leitor participa: Renata Rodrigues nos apresenta sua tia Nena em: ‘Dizia minha tia…’ 3
O leitor participa:
Renata Rodrigues nos apresenta sua tia Nena em: ‘Dizia minha tia…’ 3
Dizia minha Tia, quando orientava a não palpitarmos em discussão de casal: “Quem divide o mesmo colchão tem a mesma opinião”.
Pode ser que sim, pode ser que não, pode ser que sim e que não, o fato é que não há melhor lugar para as pazes do que um macio colchão.
Casei-me na época em que cama box era mobília de hotel de luxo e as tradicionais camas de casal começavam a surgir em tamanhos maiores, com nomes de realeza. Compramos um belo exemplar, com cabeceira e peseira de madeira maciça toda entalhada e torneada; sim, isso era bonito na época! Além de suntuosa era de alta qualidade: ─ Móveis do Sul são para sempre! ─ disse o vendedor, mais confiante na vitalidade do produto que nós dois jovens do casamento. E realmente ela existe até hoje (nosso casamento, também!) e foi gentilmente transferida aos meus pais assim que a Era Box chegou ao nosso lar.
Mas, houve uma vez, quando ela tinha uns dez anos de uso (nosso casamento, também) que resolveu testar nossa união e nosso colchão. Era madrugada de sábado para domingo e quando voltei do banheiro segundos após me deitar novamente, as ripas que seguram o estrato cederam e fomos os dois em sintonia ao chão.
Eu estava acordada e ao ver que meu marido sequer se mexeu com a queda achei prudente tocar-lhe o ombro para ver se estava consciente e quase me levantei nesse gesto. Em posição fetal, de olhos fechados, sem mover o rosto do travesseiro, ele ordenou: ─ Durma, do chão não passa!
Numa mistura de surpresa, admiração e concordância, aninhei-me ao seu lado e obedeci sem nada contestar. Naquele momento, senti uma cumplicidade de gostos e uma afinidade de almas que só a vida a dois proporciona, maior que qualquer outro sentimento que une duas pessoas. Tínhamos tudo: sono, colchão e a mesma opinião!