O leitor participa: Renata Rodrigues nos apresenta sua tia Nena em: ‘Dizia minha tia…’ 4

Tia Nena

O leitor participa:

Renata Rodrigues nos apresenta sua tia Nena em: ‘Dizia minha tia…’ 4

 

Dizia minha tia em sua língua materna: “El collar saliu más caro que el perro” (A coleira saiu mais cara que o cachorro) quando queria contar que algo foi  além do necessário.

Neste mundo de correrias, travei bons diálogos com meu filho enquanto eu dirigia e ele no banco de trás observava o mundo. Num desses sublimes momentos, aos seis anos, com toda doçura infantil de aprender a vida, me perguntou: “Mãe, o que é jovem?”

Digamos que, como mãe, eu sou intensa (para não dizer exagerada) e vi ali uma grata oportunidade de perpetuar o que aprendi num longo e árduo caminho trilhado por anos. E assim, comecei meu caloroso discurso sobre a fase da vida onde não somos mais criança e, tampouco, adulto, quando fazemos nossas principais (nem sempre as melhores) escolhas, como profissão, amor e amigos, quando temos energia e alegria e somos intensos em nossas atitudes e emoções. Ser jovem é ter 18anos e poder dirigir um carro, apesar de ainda não saber dirigir a vida, mas pensar que pode mudar o rumo do mundo.

Durante todo o trajeto, elucubrei sobre as infinitas possibilidades que temos quando somos jovens e como o mundo nos aplaude em pé ao realizarmos apenas as obrigatórias.

Orgulhosa da minha transfusão de sabedoria, terminei a fala quando estacionei em nossa garagem. Depois de alguns segundos de um silêncio contemplativo, ele respondeu com um fatal e frio: “Tá bom!”.

Inconformada com a conformidade do meu pequeno  discípulo, depois de uma resposta tão rica e saborosa perguntei: “Mas, por que você queria saber o que era jovem?”

E ele me responde em conhecida entonação: “É que eu ouvi no rádio do vô: JOVEM PAN!”

E em minha mente surgiu a imagem de um pulguento vira-lata com uma coleira de brilhantes…