Pedro Novaes: 'Sem assunto'
Pedro Israel Novaes de Almeida – ‘ SEM ASSUNTO’
Vez em sempre, os articulistas amadores, a nosso exemplo, ficam sem assunto, para o artigo da semana.
Parece incrível, mas quanto maior o número de acontecimentos e temas em discussão, mais difícil é optar por um tema. Os assuntos em voga já foram exaustivamente visitados por uma centena de autores, e a tendência natural é assumir opiniões e clamores alheios.
A administração pública brasileira, com seus escândalos e despudores, tem potencial para nutrir, por séculos, artigos de opinião. Não vemos nada de atraente em anunciar que algum ladrão voltou a roubar, ou que algum notório criminoso acabou, mais uma vez, sendo absolvido.
Em nosso meio, o assunto fica por conta de repisar problemas, pois as soluções já foram, há muito, descobertas. Dormitam, país afora, estudos e diagnósticos bem elaborados, condenados à desconsideração por sugerirem soluções contraindicadas para a continuidade de uma ou outra sem-vergonhice.
Articulistas partidários, ativistas de sempre, raramente padecem da falta de assunto, eis que sempre haverá algum dogma ou refrão a ser repetido, nutrindo o endeusamento de lideranças ou a demolição da imagem de algum adversário formador de opinião.
Cronistas especializados vivem repletos de temas, sempre atuais, pois a natureza, o esporte, as artes, a vida social, e cada compartimento da ação e conhecimento humano são inesgotáveis. A categoria requer interesse, capacidade e relacionamento.
A nós, amadores, compete escrever como se pensássemos em voz alta, tendo como fontes de pesquisa as impressões do dia a dia e opinião pessoal. É uma grata temeridade lançar ao julgamento dos leitores considerações de cunho absolutamente amador.
No fundo, os amadores escrevemos para nós próprios, como que gerando arquivos que documentam nosso ânimo ou desânimo, em determinado momento. Somos, todos os milhões de brasileiros, articulistas amadores, atrevidos ou retraídos.
Com o avançar da idade, os articulistas tendem, e adoram, reviver cenas antigas e tempos de outrora, com detalhes só tardiamente valorizados. A humanidade parece caminhar para um futuro que, cada vez mais, valoriza o passado.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.