Sôniah Moreira: 'Quem é ela?'
Sôniah Moreira: ‘QUEM É ELA?’
Uma bela senhora! O seu andar lento e elegante chama atenção, para quem consegue visualizá-la algumas vezes aparece linda, outras, com uma feiúra abominável, sua aparência vai depender do olhar de cada um.
Ninguém a conhece de fato, a maioria das pessoas evita conviver com ela, não a querem por perto.
Esta bela senhora pouco se importa com isso, sabe que a qualquer hora, todos terão que recebê-la em casa e travar certo relacionamento.
Não é convidada de forma alguma para nada, porém, ela chega sem convite mesmo, adentra pela porta sem cerimônia, sua presença causa transtornos e até dissabores!
Esta senhora cruzará o caminho de todos, cedo ou tarde, não existe formula mágica para se evitar esse encontro.
Quem é ela? Poucos conhecem sua origem, ou como surgiram diversos nomes imputados a ela, alguns desabonadores!
Há quem faça galhofas com ela! Coitada! Não merece, é certo que, nunca leva a culpa de nada, sai imune de todas as circunstancias que a envolvem!
Dizem os sábios que ela apenas cumpre seu destino, será somente destino? Que tal, missão?
Quem é ela? Na verdade ela nos ronda pela vida inteira, porém, somente nos abordará no momento certo, na hora exata, nem um minuto a mais ou a menos.
Todos nós a conhecemos, ou digamos; sabemos de sua existência, e a maioria, prefere ignorá-la.
Caro leitor, já deve ter percebido de quem estou a falar! Sim! Ela, a senhora de todos os tempos, a que nunca se atrasa, ou se adianta, e que jamais nos deixará de fora de seu jogo.
Estou falando da ilustríssima senhora Morte!
Ela não se enquadra perfeitamente em minhas alusões? É bela para alguns, horripilantes para outros, alguns fazem piadas com seu nome, outros tentam ignorá-la.
Existem alguns tipos que analisando friamente, parecem acreditar que não irá encontrá-la de forma alguma, são de uma arrogância avassaladora, pensam que estão acima do bem e do mal, e livres desse encontro marcado!
Tolos! Somos seres irremediavelmente mortais como pétalas de rosa, cheiramos a podridão no limiar de nossos findos dias. A sepultura os espera, como a todos!
Pessoas abomináveis em suas crenças de superioridade, sentindo-se melhores do que seus pares, suas auras são fétidas, podres de almas.
Somos iguais no nascimento e na morte, sem nenhuma diferença, talvez somente o peso das urnas, ou a imponência do granito de suas lápides.
É caro leitor! A ilustre dona Morte nos achará em qualquer lugar, não há como se esconder, podemos inclusive tentar um disfarce, fazer uma plástica, porém, nada poderá enganá-la, nossos dias são contados em sua ampulheta milenar.
Mais um dia, menos um dia, como diz um grande amigo sempre que lhe cumprimento pela manhã.
Não fiquem tristes ao ler essa realidade, grandes escritores assim como Augusto dos Anjos, já descreveu em suas poesias sobre essa nobre senhora, apenas tentamos esquecê-la, ou nos fazer de desentendidos.
A única certeza que temos felizmente ou infelizmente, é essa, o resto são apenas conseqüência de nossa jornada terrena!
“Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!”
Augusto dos Anjos (1884-1914)
Sônyah Moreira – sonyah.moreira@gmail.com