Celso Lungaretti: 'Para Juca Kfouri, os brasileiros têm que retomar o Brasil: para Celso Lungaretti, a humanidade tem de retomar o mundo'

 

 Celso Lungaretti: ‘A DEMOCRACIA CORINTHIANA ME FEZ CRER QUE, APÓS A TEMPESTADE DITATORIAL, VIRIA A BONANÇA DE UM NOVO BRASIL’

Sou da mesma geração do Juca Kfouri, só uns poucos meses mais novo. Então, conheço muito bem os sentimentos que inspiraram seu artigo dominical. Mas, discordo da conclusão: para mim, não são os brasileiros que têm de retomar o Brasil, mas sim a humanidade que tem de retomar o mundo.

 Também cheguei a assistir nos estádios às desconcertantes tabelinhas Pelé/Coutinho e às geniais molecagens do Mané. E gostaria de ter filhos ou sobrinhos para contar (“Meninos, eu vi!”) que, no maldito ano de 1964, pelo menos o futebol era de primeiríssima qualidade, a ponto de eu ter presenciado 20 gols numa mesma tarde, em partidas decisivas travadas no velho Pacaembu:
  • na final do campeonato de aspirantes, o Corinthians, liderado por um Rivellino prestes a ser promovido para a equipe principal, enfiou 6 a 3 no Santos;
  • o troco veio no jogo principal, 7×4 para o Santos, impondo mais um ano de fila para o Corinthians independentemente do que acontecesse na rodada seguinte, a última.

E o time da democracia corinthiana dos anos 70 enchia-me os olhos, era o futebol-arte da minha devoção carregando a bandeira dos melhores ideais daquela época na qual, eterno otimista, cheguei a crer que, depois da tempestade ditatorial, viria a bonança de um novo Brasil.

Meninos, eu vi… Rivellino se consagrando nos aspirantes

O que veio foi a integração plena do nosso país no capitalismo globalizado e a entronização de uma sociedade de consumo que a tudo e a todos transformou em mercadorias.

Então, sendo mercadorias de grande valor de mercado, nossos craques foram deslumbrar os europeus, enquanto, como a Madalena da música do Chico, ficávamos a ver navios… abarrotados de jogadores medianos que não despertavam interesse lá fora, além de algumas jovens promessas que passaram a bater asas em prazo cada vez mais curto e de uns tantos retornados que já não serviam para os grandes centros mas conseguiam enganar bem por aqui durante um tempinho, até pendurarem definitivamente as chuteiras.

Para não ficarmos no mero saudosismo, temos, contudo, de considerar outros aspectos. P. ex., quantos assistiam àqueles jogos maravilhosos? Boa parte não passava na TV, ou era mostrada somente em teipe, lá pelo final da noite. Trabalhadores que pegavam cedo no batente nem sempre podiam esperar até tão tarde, mesmo querendo.

Futebol deve ser tido como espetáculo, não como guerra!

Agora, pelo contrário, as transmissões são quase todas ao vivo e a oferta, das mais vastas, abrangendo não só as melhores partidas do respectivo Estado, como as do resto do Brasil e também dos maiores centros do velho continente. Se o Neymar ainda estivesse no Santos, dificilmente teríamos visto tantas atuações suas como as que vimos com ele no Barcelona.

Os jogadores se tornaram gananciosos que alugam seu talento a quem pagar mais? Sem dúvida! Mas. há o aspecto positivo de que, assim, eles começam a ser vistos como aquilo que realmente são: artistas que nos proporcionam belos espetáculos, e não combatentes que devam jogar com garracolocar o coração no bico das chuteiras e outros chavões belicosos. Já temos muito mais guerras do que deveríamos ter, precisamos é de encantamento e beleza nas nossas vidas!

E, quanto a retomarmos o Brasil, lamento, Juca mas isto também ficou para trás. O que nos infelicita se repete no mundo inteiro, com diferenças apenas quantitativas. A crise econômica é maior aqui, mas pipoca também na América do Norte, Europa e Ásia (enquanto a África já se tornou a própria antessala do inferno!).

“Não existe mais período de prosperidade em ampla escala”

Não existe mais período de prosperidade em ampla escala: para que algumas nações estejam relativamente bem é necessário que outras estejam acentuadamente mal. Até um leigo em economia percebe que está se delineando, no horizonte, uma depressão que fará a da década de 1930 parecer brincadeira de criança. O que vimos em 2008/2009 foi apenas um trailer… assustador.

Paradoxalmente, também deste quadro agourento podemos extrair algo positivo: o fato de que, a cada dia, vai caindo para mais e mais pessoas a ficha de que a salvação não vai ser encontrada por um ou outro país isoladamente, mas tem, isto sim, de ser buscada pela humanidade como um todo.

Não há como equacionarmos apenas em nível nacional o problema da absurda desigualdade econômica que condena bilhões à miséria em benefício de ínfimas minorias de parasitas. Nem o da crescente destruição dos recursos naturais que possibilitam a sobrevivência da espécie humana, mas estão sendo sacrificados no altar do lucro.

Será mais fácil adquirirmos tal percepção neste novo mundo –ora admirável, ora detestável– entrelaçado pelas comunicações. Abrimos janelas para o resto do planeta; devemos não só olhar através delas, mas extrair as conclusões que se impõem.

Afinal temos chance de transcender as barreiras artificiais que separam os homens desde os primórdios. Hordas primitivas, tribos, impérios, feudos, estados-nações, blocos ideológicos, o que isso nos tem trazido através dos tempos além de morticínios inúteis e sofrimento desmedido? Agora, premidos pela necessidade, teremos de inventar uma forma de conviver com os demais seres humanos e unirmo-nos a eles nas tarefas essenciais para garantir que todos tenhamos um amanhã

E é aconselhável que o façamos logo, pois, enquanto não retomarmos a posse dos nossos destinos, estaremos nos aproximando cada vez mais do ponto de não-retorno.

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