Edweine Loureiro: 'Nagasaki'

Edweine Loureiro: ‘NAGASAKI’

“Para eles, os sobreviventes, continua chovendo em Nagasaki. Uma chuva negra. Sem fim…”

 

Escrevo esta crônica enquanto assisto, na tevê, a um documentário sobre os efeitos da Bomba Atômica em Nagasaki.

Na tela, a história de um senhor japonês – cujo nome, por respeito, não mencionarei – é tocante. Na manhã do dia 9 de agosto de 1945, estava ele e um outro garoto brincando na cobertura de um edifício residencial em Nagasaki. No meio da diversão, porém, atendendo ao pedido do amigo, nosso protagonista decide retornar para o interior do prédio. Questão de minutos depois, com os dois garotos já no elevador, uma nuvem de fumaça radioativa cobria os céus da cidade!

Passados 63 anos (o documentário data de 2008), este senhor impõe a si próprio uma missão: reencontrar o colega de infância, que lhe salvara a vida naquele malfadado 9 de agosto. E, assim, ele inicia uma jornada, cujo final não nos cabe aqui revelar – entre outros motivos, para não estragar a surpresa, caso o leitor um dia venha a assistir ao documentário, produzido pela NHK.

O que nos cabe, sim, é refletir sobre os efeitos desta que é uma das maiores barbáries da História humana. Para nós, ocidentais, as páginas desta tragédia, muitas vezes, não passam de matéria escolar: pedaços de um passado que desejamos esquecer, ou, algumas vezes (no caso dos autores do crime), até mesmo negar.

Em vão. Pois os efeitos ainda estão lá: sob a pele; impregnados no corpo e na alma de milhares de japoneses – paralíticos, cegos, ensandecidos…

Para as vítimas de Nagasaki – hoje, em sua maioria, octogenários – o dia 9 de agosto de 1945 não acabou. Nem acabará. Pois, ainda que cem anos se passem, eles continuarão ouvindo o som da explosão da bomba e sentindo o cheiro dos corpos carbonizados ao redor.

Para eles, os sobreviventes, continua chovendo em Nagasaki. Uma chuva negra. Sem fim…