Pedro Novaes: 'Más notícias'
Pedro Israel Novaes de Almeida: ‘MÁS NOTÍCIAS’
O país está, literalmente, podre.
Grandes empresários e políticos da pior espécie uniram-se para roubar, descaradamente, nosso futuro, tornando piores as carências do presente. Já não acreditamos que seremos, em algum futuro, o país do futuro.
As instituições ainda confiáveis lutam, desesperadamente, para impedir que membros pouco éticos consigam conduzi-las à inoperância e leniência. Os descalabros e absurdos deixaram de justificar manchetes e causar apreensões, para integrarem nosso dia-a-dia.
A onda de violência somou-se à falência da saúde pública e crescente esgotamento de nosso sistema educacional. Milhões seguem desempregados, e já não apresentam qualquer ânimo, mesmo com as eventuais e esporádicas notícias de algum respiro em nossa moribunda economia.
Autoridades executivas e políticas, mais preocupadas com o pleito de 2018 que com os 200 milhões de espectadores, seguem anunciando comedidas economias, ao tempo em que persistem agigantando despesas e gastos nababescos.
A política deixou de ser solução, e enquanto perdurar a insensibilidade e desfaçatez, resta-nos a humilde e pouco acreditada esperança de mantermo-nos como aparente civilização, até que um sopro de consciência coletiva, vindo do além, resulte na eleição de pessoas com o mínimo de ética e vergonha, nas próximas eleições.
Desesperados, ainda nutrimos, agora revigorada, a esperança de que surja um ditador honesto, castigando sem piedade nossos vendilhões. A honestidade dos ditadores costuma ser passageira.
As únicas notícias animadoras surgem logo pela manhã, quando os jornais televisados anunciam que a Polícia Federal está, de novo, nas ruas. É reconfortante ver celebridades serem aprisionadas, por funcionários públicos que nada recebem, além do salário e desencantos.
Somos, hoje, um povo enraivecido, e só conseguimos sobreviver graças ao que restou de nossa histórica insistência e capacidade de convivência. Ainda conseguimos sorrir, e fazer dos infortúnios piada.
Nossas polícias, que matam e morrem, persistem intimidadas, cada vez mais acuadas por legislações que privilegiam pessoas, não sociedades. Nossos cárceres lembram o tempo das cavernas, sob a tutela de prisioneiros.
Estamos, a cada dia, mais intolerantes. Parece piada, mas passamos séculos dizendo que Deus é brasileiro.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.