Marcelo Augusto Paiva Pereira: 'Ciência e política'

Marcelo Augusto Paiva Pereira: ‘CIÊNCIA E POLÍTICA’

 

Na intitulada obra “Ciência e Política” Max Weber aborda ciência e política como vocações. Os objetos de exame são o conhecimento científico e o poder político, os quais não se confundem, mas se entrelaçam.

 

A ciência como vocação exige do vocacionado a especialização e o entusiasmo, com as quais surgem os trabalhos de valor real com vistas à durabilidade, a inspiração (para elaborar o pensamento) e a intuição (para solucionar questões em um trabalho em desenvolvimento).

 

Nessa atividade o cientista não poderá expor juízos de valor porque estes viciam o trabalho científico e dificultam o progresso da ciência, com óbices sem conteúdo passível de demonstração teórica ou empírica. No mister de docente, aos alunos não poderá expô-los porque carece de metodologia para se justificar, além de o docente não poder ser criticado pelos alunos.

 

Na Universidade o docente, o cientista e os alunos não podem fazer política, porque esta tem origem em juízos de valor (escolha da melhor ideia), os quais carecem de metodologia científica para demonstrar seus conteúdos.

 

Quando produzida em fiel seguimento de seus pressupostos (validade das regras da lógica e da metodologia, e a importância do resultado), a ciência se torna vantajosa por três razões: oferece conhecimento para controlar e dominar a vida, métodos de pensamento e melhor entendimento a quem queira ou precise escolher algum meio para atingir alguma finalidade.

 

A ciência melhora a vida enquanto for a fonte de conhecimento racionalizado para o indivíduo, vocacionado ou não, fazer as melhores escolhas em face dos eventuais conflitos que deva ou queira solucionar. Quanto ao cientista vocacionado, este deverá dedicar-se com espírito científico, intelectual e profundo – ou seja, sem expor juízos de valor nem promover atividade política.

 

A política como vocação é causa da dominação política, exercida pelo Estado para assegurar a própria existência. O vocacionado para a política será quem tiver carisma para dedicar-se à finalidade (obra pretendida) sem se submeter ao domínio dos funcionários especializados. Tal carisma faz dele um “homem de prol” ou, então, um demagogo.

 

O Estado moderno permitiu o surgimento do político com especialização técnica para a distribuição de cargos. Com o surgimento dos partidos políticos (amparados pelo constitucionalismo), passou a ter domínio político e escolher o candidato a chefe do partido ou a membro do parlamento.

 

Os instrumentos da política são o poder (meio com que se exerce a política) e a força (meio com que se cumpre a finalidade (obra pretendida)). No exercício do poder, entretanto, em duas são as éticas a serem observadas pelo chefe:

  1. ética da convicção: o fim pode justificar moralmente um meio determinado, se este não for perigoso; caso seja, nem os bons fins o justificam;
  2. ética da responsabilidade: os meios impõem responsabilidades e deveres próprios ao chefe, que não pode delegá-las a ninguém nem delas se eximir;

 

O vocacionado deverá escolher a ética da responsabilidade e a da convicção quando convier uma ou outra, completando-as no exercício da atividade política. Enfim, deverá saber conduzir-se eticamente conforme cada ocasião, responsabilizando-se, sempre, por tornar-se santo ou demônio.

 

Conclusão

 

Ciência e política são objetos de distintas vocações, porque o cientista não deve ser político, enquanto o político não deve ser cientista. Ambas, entretanto, entrelaçam-se na utilidade da ciência como meio (instrumento) para se atingir a finalidade política almejada (sempre com vistas ao interesse público).

 

Ao político a ciência deverá orientá-lo enquanto servir de supedâneo à ética da convicção, para justificar a finalidade pretendida; enquanto a política fornecerá o poder e a força com as quais administrará o Estado. Deverá, entretanto, ter carisma para não se submeter ao domínio dos funcionários especializados e escolher as condutas políticas que o tornem um “homem de prol” ou um demagogo.

 

Em suma, ciência e política servem, respectivamente, para desenvolver o conhecimento em favor da sociedade e exercer o poder para gerir o Estado. Apesar de distintas, entrelaçam-se quando a primeira servir de justificação à segunda, sempre com vistas à finalidade política almejada. Nada a mais.

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Marcelo Augusto Paiva Pereira

(o autor é advogado)