Pedro Novaes: 'Crise amarga'
Pedro Israel Novaes de Almeida – ‘CRISE AMARGA’
Estamos chegando ao fundo do poço.
A crise chegou às unidades de saúde, a cada dia mais necessárias, em um país onde metade da população sequer conta com satisfatório saneamento básico.
Nas poucas cidades onde hospital e pronto-socorro funcionam, ainda que precariamente, é possível verificar a firme atuação de voluntários e abnegados, minimizando a falta de estruturas, pessoal e até medicamentos.
No crônico desencontro entre orçamento e gestão, brasileiros, aos milhões, não conseguem atendimento médico, e cirurgias eletivas viraram um luxo, à disposição de poucos. Mortes e sofrimentos alimentam as manchetes dos noticiários, e as estatísticas demonstram que vivemos uma situação de guerra, no mais silencioso dos combates.
O lado cruel da crise reside no fato de serem, as vítimas, cidadãos com menos recursos e pequeno relacionamento social com pessoas influentes. Gestores públicos, dos pequenos aos grandes municípios, experimentam o desafio de eleger prioridades, em ambiente de orçamentos declinantes e necessidades públicas crescentes.
A disputa pelo agravamento da crise segue célere, alternando omissões e erros dos governos federal, estadual e municipal. Muitos prefeitos, cujas cidades não contam com hospitais e unidades de socorro, despejam pacientes em municípios vizinhos, sem a proporcional colaboração financeira para a manutenção dos serviços.
Na maioria dos municípios brasileiros, as unidades de saúde andam sobre rodas, com pacientes perambulando em ambulâncias, mundo afora. A crise na saúde é o mais cruel e desumano reflexo dos erros e crimes que marcaram, historicamente, nossas administrações públicas, desde que aqui aportou a primeira caravela.
O difícil é explicar, a algum cidadão desassistido, que nosso problema nunca foi de incompetência administrativa, mas de desonestidade explícita e crescente. Em meio ao descalabro, caminhamos ainda sem rumo, ouvindo aplausos e saudações aos aventureiros de sempre, tanto dos que juram amor aos pobres e pernoitam com milionários, quanto dos justiceiros da ordem, nos mais autêntico estilo bedel.
Em outros países, as crises geraram aperfeiçoamentos e enobreceram a história. Por aqui, por enquanto, apenas vítimas.
Vivemos um momento em que um grupo de servidores públicos assalariados, encastelados na operação Lava Jato, faz hercúleo e heroico esforço para ao menos punir e desestimular os assaltos ao erário, muitas vezes enfrentando dificuldades no Executivo, Legislativo e Judiciário. Mesmo assim, enfrentam campanhas, tão sórdidas quanto radicais, de achincalhe e descrédito.
Somos um país soberano, e talvez a crise nos conduza a nação com valores e cultura civilizados, onde a esperteza desonesta não seja saudada como natural e até engraçada. Depende de nós !
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.