Na coluna 'Entre Nós e o Público', o editor Sergio Diniz entrevista Nicanor Filadelfo Pereira, colunista do ROL, escritor e poeta membro do grupo Coesão Poética de Sorocaba
O escritor e poeta Nicanor Filadelfo Pereira está lançando seu 4º livro: ‘Sonetando em Doces Sonhos’. E, nesta entrevista, ele fala, entre outros assuntos, sobre a infância, sua influência literária, destaca poetas atuais e como surgiu o grupo Coesão Poética de Sorocaba, do qual foi um dos fundadores
Sergio Diniz da Costa: Quem é o poeta Nicanor Pereira?
Nicanor Filadelfo Pereira: É muito difícil falar de si próprio, sem deixar que a vaidade assuma o devido lugar da humildade, e que esta, não o avilte, entendendo-se tal como criatura divina, para o louvor e glória do seu Criador.
Nicanor é um moço de setenta e oito anos que tem os seus olhos, e a sua mente, voltados para o lado positivo da existência, tendo como princípio o amor Ágape, que provém da fonte central da vida, o Deus Eterno, associado ao Phileo, aquele que ama a todos que o cercam. Esse é o mesmo que crê que “poetar é o dom mais sublime que, nos loucos devaneios, das agruras nos redime, dando azo a estes anseios”.
SDC: Desde quando escreve poemas e o que o levou a começar a versejar?
NFP: Ao que me lembro, ainda na infância, na pré-adolescência, numa florida manhã de maio, dia das mães, Nicanor sentiu-se em falta por não ter um presente para a sua mãe. Olhando as flores, percebeu vir do “alto” a inspiração para alguns versos. Houve, depois, um interstício de alguns anos, até surgirem os primeiros amores, suas alegrias e consequentes tristezas — nascia aí o vate, o poeta, o sonhador.
SDC: Quais foram as suas influências literárias e, em especial, poéticas? E por que você optou por ser um poeta parnasiano?
NFP: Respondendo à primeira parte da questão, eu diria que as influências foram diversas. Foram os poetas tradicionais, tais como Olavo Bilac (Ouvir Estrelas), Cruz e Souza (Siderações), Casimiro de Abreu (Meus oito anos), Castro Alves (Navio Negreiro), sonetos de Luiz Vaz de Camões, e outros. Muita influência veio, também, da música popular, cuja maioria quase absoluta é composta por versos decassílabos, por exemplo, “Noite alta, céu risonho, a quietude é quase um sonho,,,”, “Minha vida era um palco iluminado, eu vivia vestido de doirado…” e outras do meu repertório da adolescência e da mocidade, anos 50, 60 e 70.
Por que me tornei poeta parnasiano? Tenho por princípio de vida a busca da perfeição, lógico, jamais encontrada, mas buscá-la é importante, porque o “mais ou menos”, na minha modesta opinião, é menos, falta-lhe algo, deixa de ser positivo. O parnasianismo, influente em minha verve, conforme as citações anteriores, satisfaz-me por sua técnica, sua estrutura física, por sua simetria, pelo uso do termo apropriado para se definir um pensamento. Em outras palavras, “nasci” parnasiano.
SDC: Você foi um dos fundadores do grupo Coesão Poética de Sorocaba. Como surgiu a ideia da formação do grupo?
NFP: No final de 1998, concorri, num certame literário promovido pelo SESC, com uma crônica intitulada “De Onde me Virá o Socorro”, tendo sido escolhida para constar de um livreto publicado por aquela instituição. No evento de entrega do prêmio, conheci o amigo e colega Gonçalves Viana, que me indicou um movimento poético, de atividades sabatinas, existente no Parque da Biquinha. Pouco depois, começamos a frequentar, juntos, um movimento organizado por Armando Oliveira Lima, o De Poesia, que se reunia, aos domingos, no Bar Depois, da Rua Aparecida, Vila Santana. Ali, declamávamos nossos poemas enquanto conversávamos, nascendo, assim, a amizade e o comprometimento poético entre Ana Maria Lima, Gonçalves Viana, Messias Mi, Córdoba Júnior, Tânia Maria Orsi, Gustavo “Godzila”, Emerenciano de Barros o “Merê” violonista, e este metrificador inveterado. Surge daí, então, a ideia de se publicar um livro, para a divulgação de nossos poemas. Logo, Tânia Orsi ofereceu uma sala em sua Clínica para a nossa primeira reunião com esse fim, era dia 17 de junho, uma fria sexta-feira, de 2005, inicialmente, apenas um grupo sem denominação. Coube a mim, numa das reuniões, propor a denominação de Grupo Coesão Poética, tendo em vista a diversidade de estilos de cada um dos seus membros, na singularidade do amor à poesia. Já em 2007, propus a institucionalização do Grupo, que foi unanimemente aprovada como Associação Cultural Coesão Poética de Sorocaba.
SDC: Qual é a sua visão sobre a poesia no mundo atual? O ser humano precisa de poesia?
NFP: A poesia, no Sec. XX, na minha visão empírica, ou seja, ausente o rigor científico, esteve praticamente dormente, enquanto crescia o interesse social pelo consumismo, em todas as suas áreas, e por conseguinte, um esfriamento emocional, racionalizando-se os pensamentos e as aspirações. Sinto, nestes primeiros anos do presente século, o recrudescimento do pensar poético. Multiplicam-se os grupos, criam-se movimentos, organizam-se coletâneas, promovem-se saraus. Oxalá Deus permita que se estabilizem, voltando o seu olhar para o belo, os corações para os sentimentos, a frieza do materialismo egocêntrico para o amor fraternal, mesmo que seja com viés de protestos, de crítica social, de apontamentos políticos, mas que se faça em amor, e pelo amor. Há tempos, defendo a tese de que o homem precisa voltar a viver poeticamente, precisa voltar a sonhar, a ouvir os sons da vida, como se fora uma balada ou o canto de um pássaro. Enfim, sentir a vida como u’a eufônica sinfonia a vibrar-lhe a alma.
SDC: Que poetas atuais você destacaria?
NFP: Não posso deixar de parabenizar o Grupo Coesão Poética que tem, sem qualquer dúvida, poetas e poetisas que se destacariam houvesse oportunidade e disponibilidade midiática. São muitos os poetas modernos, consagrados pelo publico e pela crítica especializada. Neste espaço vou destacar apenas três, começando por Clarice Lispector (1920-1977), Sobre a vida, diz Clarice: “Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. / Dificuldades para fazê-la forte. / Tristeza para fazê-la humana. / E esperança suficiente para fazê-la feliz”. O segundo, sem a ordem de importância, eu reservaria para, Cecília Meireles (1901-1964), porque, como a mim, diz ela: “Eu canto porque o instante existe / e a minha vida está completa. / Não sou alegre nem sou triste: sou poeta”. Sem desmerecimento a qualquer outro, eu daria um lugar especial ao “poetinha”, ele que não é pequeno, nem nada. Poeticamente falando, ele é tudo, ele é sonho, ele é canção, ele é poesia, é soneto, ele é amor, embaixador da cultura e do sentimento brasileiros, Vinícius de Moraes que teve a audácia de comparar o amor à efemeridade da chama, mas que almeja a infinitude do amor, enquanto dure.
SDC: Você já tem outros livros publicados. Quais são e sobre que temas tratam?
NFP: Sim, eu tenho algumas obras publicadas. Uma dessas é o livro JANDIRA Favo de Mel – crônicas – poesia – relatos (Ottoni, 2007), trabalho que narra histórias da cidade de Jandira, de onde sou procedente, e onde fui político, exercendo a vereança; Noções de Poesia Tradicional (O Clássico, 2008), obra de cunho didático, sendo um tratado sobre poesias escansionadas; Vidas Entrelaçadas (O Clássico, 2008), romance engajado. No dia 16, deste mês em curso, lancei, pelo Clube dos Autores, o livro Sonetando em Doces Sonhos, obra poética, exclusivamente composta de sonetos. Estamos planejando lançar no mês de fevereiro ou março do próximo ano, o livro de poesias (não sonetos) Vida em Versos, que enfeixará variedade de temas, com quase a totalidade obedecendo as métricas tradicionais.
SDC: Quando e como começou a nascer o ‘Sonetando em doces sonhos’? Os poemas desse livro seguem a mesma linha poética dos poemas já escritos e/ou publicados?
NFP: Essa cesta de sonetos vem sendo germinada já de longa data, visto eu não ser tão produtivo, dependente da motivação, da inspiração, das circunstâncias, etc. Foram sendo armazenados, com vistas a uma futura publicação, que ora acontece. Os poemas que compõem o livro são sonetos, na forma tradicional, decassílabos, com predominância de rimas alternadas – AC/BD, temas que passeiam pelo espiritual, pelo romance, patriotismo, pela crítica e outros. Alguns esparsamente publicados nas mídias sociais, não fazendo parte de livros.
SDC: Você encontrou alguma dificuldade para a publicação do novo livro (patrocínio, editora etc.)?
NFP: O sistema financeiro que adotei desta vez para a publicação foi o do autofinanciamento, pelo Clube dos Autores, cujo sistema funciona da seguinte forma: o autor envia a obra já diagramada, formatada, com a capa dentro dos padrões, o Clube edita o livro, coloca-o à disposição dos interessados, na rede de venda (grandes magazines, tais como Amazon, Lojas Americanas, diversas outras), sendo impresso à medida que é solicitado pelo leitor, ou enviado via internet, no caso do E-Book. Neste caso, o E-Book, será instantâneo, e com a vantagem de sair por cerca de um terço do preço da versão impressa, e ainda dispensando as taxas de postagem. Sistema que está sendo adotado por grande parte dos autores contemporâneos.
SDC: Que mensagem, ou orientação, você deixaria para as pessoas que gostariam de começar a escrever poemas?
NFP: Escrever poesia não depende de técnica, depende de basicamente de inspiração e transpiração. A técnica vai fluindo à medida que vão acontecendo os poemas. Embora eu seja um poeta escansionista, RECOMENDO algo que julgo importante: não há necessidade de a poesia ser metrificada, mas é imprescindível que tenha a cor da poesia, o cheiro da poesia, o ritmo da poesia. Lembrem-se, sem ritmo o texto será, talvez, uma excelente crônica, ou qualquer outro gênero literário. No livro que pretendo publicar em fevereiro ou março, haverá um poema denominado “Poetar”, onde mostrarei que: “poesia jamais se aprende, pois que vem da inata lei, que medra n’alma da gente”. Portanto, papel, caneta, inspiração e transpiração. Eis o poema!