Pedro Novaes: 'Pouco aprendemos'
Pedro Israel Novaes de Almeida – POUCO APRENDEMOS
Mais aos trancos que barrancos, a humanidade segue sua sina de percorrer os rumos traçados pela história.
Na verdade, a história não só escreve o passado, como delimita o futuro. A história não determina o futuro, mas ensina atributos humanos que atravessam milênios, ensejando a antevisão de comportamentos e consequências.
Povos que já passaram por graves crises, e sobreviveram, atingiram graus de civilidade superiores aos que, como nós, insistimos em repetir erros do passado. Japoneses figuram como exemplos de soerguimento e progresso, como resultado natural de tantos desastres, naturais ou humanos.
Os brasileiros sofremos, há séculos, os desvarios de administrações calamitosas, em todos os níveis. O berço sempre foi esplêndido, mas o sono conturbado.
Temos o comportamento de hienas, sempre sorrindo, em plena lama. Sempre consideramos que ainda falta um pouco para chegarmos ao fundo do poço.
Já passamos por ditaduras e gestões profícuas, mas pouco aprendemos. Ainda esperamos por um herói honesto, que virá montado em cavalo branco, fulminando corrupções e descaminhos.
Já penamos administrações anunciadas como redentoras dos pobres e oprimidos, e mandatários justiceiros, pelo simples fato de darem enganoso combate a marajás. Redentores de pobres aumentaram a pobreza e faliram o Estado, e caçadores de marajás nada conseguiram, a não ser gestões desastradas e corruptas.
Em meio a tantos desconcertos, a administração menos calamitosa surgiu justamente com um mineiro, presidente quase por acaso, que assumiu posturas efetivamente republicanas. As más línguas tentam empanar o currículo de Itamar Franco, apontando o estranho topete e a atração por mulheres vistosas.
Os novos tempos, com fartas informações e publicidade, têm a contraindicação de direcionar as mídias, fazendo bandidos parecer heróis, e ladrões simples perseguidos. Por aqui, quando São Pedro faz chover na melhor época, os louros vão para o ministro.
Pequenos favores costumam calar dissidências, e grande pecados podem parecer esforço em prol dos desvalidos. Delegando mandatos, acabamos por criar reinados.
Somos, na verdade, eleitores compulsórios, movidos a máquinas publicitárias e midiáticas tão enganosas quanto ladinas. Ainda vamos repetir os erros do passado, que pouco ou nada ensinaram.
Na ânsia por buscarmos as pessoas certas, acabamos por não amadurecer instituições, que hoje sucumbem, uma a uma, desacreditadas. Não estamos distantes do caos institucional, com reflexos no dia a dia de cada cidadão.
A esperança é que sobrevivamos até o próximo pleito, e dele surja algum herói que não voe nem faça milagres, mas seja simplesmente honesto. Mais uma vez, a história ronda o ambiente, ensinando que nada aprendemos.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.