Jorge Paunovic: 'Polícia Judiciária II'
Jorge Paunovic: ‘Polícia Judiciária II’
Um novo dia que surge e um plantão em uma Delegacia de Polícia da Periferia de São Paulo. Assumimos o plantão e chegam as ocorrências. Furto de Toca Fitas de carros durante a madrugada. Naquele tempo não havia os tais alarmes de carro como hoje e as pessoas normalmente deixavam o carro na rua estacionados ou na garagem as quais não tinham muros altos ou portões de ferro altos. Toca fitas TKR eram os mais caros. Furtos de autos também ocorriam durante a madrugada. Mais tarde registros de acidentes de trânsito com vítimas eram apresentados no plantão onde eram confeccionados os boletins de ocorrência e requisitados exames. Veículo objeto de furto eram encontrados abandonados e alguns deles depenados em lugares ermos.
Na parte da tarde ocorriam alguns registros de roubo em saídas de banco e até mesmo em residências. Os roubos a banco eram raros mesmo com as agências bancárias da periferia não tendo seguranças e tampouco portas rotatórias. Raros eram os casos de homicídio e quando ocorriam eram em sua maioria acertos de contas entre criminosos.
Roubos tinham maior incidência em épocas de pagamento e recordo-me que ficava pensando nos trabalhadores humildes que recebiam salário mínimo e tinham seu pagamento roubado, como iriam sobreviver um mês sem o pagamento? Do mesmo modo quando ocorriam roubos seguidos de estupro a humilhação e recordo-me que não eram socorridos por nenhuma entidade defensora dos direitos humanos. Uma coisa era certa em pouco tempo os autores eram identificados e o inquérito policial encaminhado à Justiça com elementos robustos probatórios.
A Delegacia identificava e encaminhava a Justiça a maioria dos crimes de autoria desconhecida, no entanto os criminosos normalmente reincidiam na prática delituosa.
A área da Delegacia abrangia uma represa e nos finais de semana nos meses de calor infelizmente havia as ocorrências de afogamento uma vez que tais represas tinham inúmeros buracos ou poços como diziam.
Às vezes havia a prisão em flagrante delito quando o agente praticava o delito e era preso logo após a prática do fato delituoso. Era trabalhoso pois tínhamos que ouvir os condutores ou aqueles que o prenderam ou deram voz em flagrante delito, as testemunhas, as vítimas e ao final o acusado da pratica delituosa. Eram horas de trabalho pois uma cópia do auto deveria ser encaminhado à Justiça em vinte e quatro horas e o preso enviado a um estabelecimento penal provisório. Quando isso ocorria as ocorrências tinham que aguardar havendo demora.
Todo o serviço do escrivão era feito à máquina de escrever. Boletins de Ocorrência eram elaborados em sete vias frente e verso. Os Autos de prisão em flagrante delito em cinco vias todos feitos em papel em branco que denominávamos modelo 27 pois em sua parte superior havia o símbolo do Estado de São Paulo e os dizeres Secretaria da Segurança Pública – Polícia Civil.
Naquele tempo não se ouvia falar da doença por trabalho repetitivo e não tínhamos substitutos assim muitas vezes indispostos, gripados íamos trabalhar. Um tempo as férias não eram concedidas uma vez que havia falta de substitutos.
Era prazeroso o trabalho e uma honra servir na força policial. Éramos respeitados. Ficava impressionado pois ao intimar testemunhas para serem ouvidas vinham acompanhadas de advogados pois naquele tempo não era costume as pessoas irem à Delegacia, sentiam-se incomodadas o que iriam dizer às pessoas que as viam adentrar em uma Delegacia? Afinal eram pessoas de bem cumpridoras de seu dever e respeitavam a lei e a ordem.