Cláudia de Almeida Carvalho: 'A fortaleza da rosa'

“São tantas as mulheres a coexistirem em um único botão, à semelhança das pétalas da rosa fartas a tecer uma só flor.”

 

São tantas as flores espalhadas pelo caminho.

Umas se sustentam pela beleza, outras pelo perfume e muitas  pela indispensável delicadeza da simplicidade a decorar a travessia .

São tantas as mulheres a coexistirem em um único botão, à semelhança das pétalas da rosa fartas a tecer uma só flor.

Primaveras exuberantes em perpétua floração tingindo de fúcsia a paisagem.

Mulher, assumindo os mais variados papéis na dramatização de si mesma, tal qual as personificações de um talentoso artista nos palcos da dramaturgia.

Amor-perfeito com seus filhos embalados junto ao peito ao som do coração.

Mulher, a segurar pelas mãos toda a sua descendência na proteção dos filhos e netos na ciranda a rodar pela vida.

E no girar do tempo, se transmutar em mãe de seus próprios pais no sustento do amparo às limitações impostas pela senilidade.

Mulher que vê no filho alheio a própria extensão de sua maternidade no cuidado amoroso.

Ser intrigante e complexo que se mescla em degradê de cores dentro das habilidades de suas inúmeras performances.

Menina, mãe, conselheira, amiga, amante, profissional, filha dedicada, tantos talentos a agigantar  apenas uma única mulher.

Pacificadora de conflitos pelas armas suaves do entendimento na solidez de seu alicerce para a edificação da família.

Um ser capaz de chorar mais no êxtase da alegria do que no abalo pela dor.

Incapaz de sofrer, quer roubar a dor do filho toda para si.

Ainda que sensível em sua delicada estrutura física, é flor que viceja no frio inverno pela força da capacidade de luta pelo bem daqueles que ama.

Porém, mesmo nas vestes de guerreira, quer se sentir pequena ao encolher-se no descanso e na proteção do colo do homem amado.

Dos seus olhos o tobogã para o coração.

O sorriso a corromper  a resistência de muralhas.

Da semente faz germinar a mágica de uma nova vida a brotar.

Versátil, equilibra-se sobre saltos e corre descalça pelas ruas da existência.

Vaidosa, cuida para não borrar o esmalte úmido mesmo com as mãos da alma amputadas pelas dores da vida.

Mulher, onde a casa não é pequena demais para repartir e nem a tranquilidade é mais importante do que o abrigo da acolhida.

Fonte inesgotável de energia e compromisso para com o doar alheio, tem no conforto da família a rede a embalar o seu próprio repouso.

É flor singela e rústica a brotar imponente da fenda do asfalto do coração.

Mulher é casa, é teto, é chão.

É o céu estrelado, o trovão.

É a gota de chuva, o vento no rosto, o furacão.

As pernas cruzadas da sedução.

É o feitiço, a emoção.

Mulher, a fortaleza da rosa que mesmo envolta em espinhos de aço, floresce majestosa e perfumada no abrigo das cavernas profundas do amor.

 

Publicado originariamente na REVISTA TOP DA CIDADE, da qual a autora é articulista, edição de março de 2018.

Cláudia de Almeida Carvalho, é advogada, escritora, fotógrafa de suas observações do cotidiano, mãe e chefe de família. Apaixonada pelas artes em geral. Vegetariana. Adora animais.

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