Celso Lungaretti: 'Se não houvesse existido um Tiradentes, a quem louvaríamos? A D. Pedro I? A José Bonifácio? À Marquesa de Santos?'

Celso Lungaretti: ‘SETE TEXTOS EM HOMENAGEM AO ÚNICO HERÓI DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E MAIOR HERÓI RECONHECIDO DESTE PAÍS’

O blog Náufrago da Utopia realizou uma Semana Tiradentes, homenageando o único herói da independência do Brasil e o maior herói reconhecido deste país.

Joaquim José da Silva Xavier é o primeiro dos 45 nomes inscritos no Livro dos heróis e das heroínas da Pátria, ao lado de personagens cuja escolha foi, no mínimo, duvidosa; e de outros que realmente fizeram por merecer a honraria.

No segundo caso estão Anita Garibaldi, Chico Mendes, Frei Caneca, Leonel Brizola e Zumbi dos Palmares, além dos  líderes da Conjuração Baiana, das Guerras Guaraníticas, da Insurreição Pernambucana de 1624-1654, da Revolução Acriana e da Revolução Federalista, de figuras destacadas da Revolução Pernambucana de 1817 e dos estudantes MMDC, assassinados em praça pública durante a ditadura de Getúlio Vargas.

É praticamente impossível discernir quem foi, dentre todos, o melhor exemplo de brasileiro e o que teve trajetória mais heroica. Mas, optei por reverenciar especialmente aquele que, ao morrer por um ideal revolucionário, salvou a honra nacional.

Pois todas as tentativas de livrar o Brasil da dominação portuguesa falharam e a independência acabou chegando pelas mãos de um príncipe estrangeiro e com o beneplácito da nação mais poderosa da época, configurando antes uma troca de dependência: nosso país se livrou de um jugo político atrasado para entregar-se a um jugo econômico avançado.

Então, o motivo de orgulho que nos resta é ter havido, três décadas antes antes, um projeto de verdadeira independência, embora seus autores não estivessem à altura da empreitada e hajam fracassado melancolicamente; e um homem que, ele sim, possuía a determinação que faltou aos demais e se manteve digno até o fim.

Se não houvesse existido um Tiradentes, a quem louvaríamos? A D. Pedro I, que apenas tratou de assegurar a conservação do poder que lhe estava sendo retirado pela Corte portuguesa? Ao patriarca José Bonifácio e suas artimanhas de bastidores, talvez eficientes mas nem um pouco heroicas? À Marquesa de Santos, de cujo leito D. Pedro retornava quando deu o grito?

Então, temos mesmo de encarar Tiradentes como nosso herói maior. E urge acrescentarmos aos 45 da lista os nomes de Carlos Lamarca e Carlos Marighella, por serem os personagens mais representativos dos brasileiros que salvaram a honra nacional numa situação bem semelhante:

  • o país fracassou igualmente em dar um fim à ditadura militar do século passado e teve de conformar-se com o desígnio dos próprios tiranos, que desistiram do poder em função da sua impotência para reagir ao pífio desempenho da economia;
  • mas pode, pelo menos, orgulhar-se de alguns milhares de cidadãos que não fugiram à luta e se sacrificaram, no limite das suas forças, para que o Brasil saísse da ditadura pela porta da frente.

Eis os links de todos os posts da Semana Tiradentes (clique p/ abrir):

Mártir da independência ou herói revolucionário?

O teatro e a vida

“Se existisse mais brasileiros como eu…”

Por que Tiradentes?

Cancioneiro da liberdade

O inconfidente Cláudio Manuel da Costa suicidou-se ou foi suicidado como Herzog?

Os personagens da Inconfidência Mineira nas telas