Eduardo César Werneck: 'Você não sabia, mas isto aconteceu em 1932…'
“…trecho do livro “A Guerra de 1932 – onde o entusiasmo era indescritível”…
Paulo Gonçalves dos Santos, o Paulo Virgínio…
Um caso emblemático em 1932. As condições de sua morte, ainda hoje, são inaceitáveis. Apenas lembrar seu feito, dedicar uma rua, ou uma praça com seu nome não pagará jamais o sofrimento por que passou. Tentativas? Muitas! A cidade de Cunha, por exemplo, mudou o nome de Travessa do Mercado para Travessa Paulo Virgínio. Ah, a Praça 24 de Outubro teve sua placa substituída pela de – 9 de julho – mesmo que “bastante comentado”, o então prefeito José Arantes não tivesse aparecido a NENHUMA das solenidades em memória dos que morreram em 1932.
Paulo Virgínio passou por momentos de verdadeiro horror. Na manhã “de seu assassinato”, o tenente Airton Teixeira Ribeiro, o sargento Roque Eugenio de Oliveira, e Juvenal Bezerra Monteiro, Ascendino Dantas e Raymundo Jeronymo (fuzileiros navais) interrogaram Paulo Virgínio. “Caipira irredutível. Paulista rebelde, tu morres !” (bradou Airton). “Tu és fuzilado !”, secundou Juvenal bezerra. “Morro, mas São Paulo vence e a minha morte será vingada”, retrucou o herói. Deram-lhe então uma enxada para que cavasse, com suas próprias mãos, a sua sepultura. Jogaram-lhe ainda água fervendo pelo corpo, conforme denúncia do promotor da justiça militar. Finalmente, os “cinco vândalos conduziram a vítima amarrada com cordas para o local de imolação”.
Mas, o inacreditável aconteceu…
Realizou-se ontem, na sala do Conselho Especial de Justiça Militar, do Exército do Leste, o julgamento do 10 tenente da arma de cavalaria Ayrton Teixeira Ribeiro e seus comparsas, acusado de ter, na qualidade de comandante, mandado fuzilar o lavrador paulista Paulo Virgínio. Depois de várias horas foi lido o veridicto. Os acusados AYRTON TEIXEIRA RIBEIRO, JUVENAL BEZERRA MONTEIRO, RAYMUNDO JENOYMO MONTEIRO, ROQUE EUGENIO DE OLIVEIRA E ASCENDINO GOMES DA SILVA DANTAS foram ABSOLVIDOS por falta de provas!
Na audiência vários amigos presentes…
O deputado Amaral Peixoto, o capitão Dulcidio Cardoso (filho do ministro da Guerra), além do ajudante de ordens do chefe do governo provisório Ernani Peixoto (e também genro do ditador Getúlio Vargas), ou seja, “bons amigos” sempre ajudam nestas horas…
O auto da autópsia é de estarrecer. Às folhas 54 a 56 se lê que após fuzilar o Paulo Virgínio, enterraram “a vítima sem caixão a 20 metros mais ou menos, a margem esquerda da estrada de rodagem que conduz Aparecida a Cunha e a cerca de 250 metros para frente de uma calha e caiada de branco. Como a cova não comportasse perfeitamente o cadáver socaram-no dentro da sepultura, resultando ter o cadáver ficado com a cabeça torcida para frente, as pernas recurvadas, conforme encontraram os peritos que procederam ao exame”. Ou seja, a propalada ação “sem provas”…
Enfim, àqueles que ainda não se convenceram das atrocidades cometidas contra um ser humano simples, e que nada fez para merecer tal epitáfio, fica mais um questionamento, o que deverá ter acontecido às histórias pessoais daqueles que mais intimamente estavam ligados à vida do assassinado, viúva e filhos ?
E ainda existem os que chamam Getúlio Vargas de o “Pai dos Pobres”…
Eduardo César Werneck – drwerneck@uol.com.br