Mas, os astros do selecionado de hoje não representam mais a realidade do futebol brasileiro. Tornaram-se melhores demais que os de nossos clubes do coração. 

O Neymar não é mais o Neymar que o Santos revelou, capaz de alternar lances de absoluta genialidade com as mais inconsequentes pirraças. O Barcelona processou o seu futebol e a sua imagem com tamanha eficiência que hoje ele exibe uma perfeição inexistente nestes tristes trópicos onde quase ninguém mais escuta sabiás cantando nem vê as palmeiras nostálgicas do Gonçalves Dias balançando ao vento.

Nem o Gabriel Jesus é o mesmo do Palmeiras, muito menos o Marcelo que um dia foi do Fluminense. Até o Paulinho perdeu um tantinho de sua cativante simplicidade e deu de exibir visuais da moda. 

Não conseguimos imaginar nenhum deles voltando a ser o que era quando jogava aqui. De um jeito ou de outro, ficaram parecendo prósperos rebentos do mundo desenvolvido, praticantes de um futebol luxuoso a ponto de fazer com que nos sintamos novamente vira-latas embasbacados diante das coisas maravilhosas existentes nas Oropa.

Grafitte numa rua paulistana, 2014

E por que só agora os brasileiros começaram a perceber que o escrete é uma imagem retocada do tosco futebol exibido nos estádios brasileiros?  Talvez por causa das decepções com os políticos crapulosos e do desalento com a  crise econômica que há tanto nos fustiga e não parece ter saída à vista.

Mas, se não tínhamos o país que pensávamos ter e agora a ilusão se dissipou, de nada adiantará piorarmos as coisas mais ainda com nosso amargor. Resmungos não mudam a realidade, é a vontade dos homens que faz isto. 

Esperávamos que os políticos, os partidos, os governantes, o pai dos pobres, Deus ou o diabo criassem tal país. Se há uma lição a tirarmos das desventuras recentes é que cabe a nós, e só a nós, construirmos um Brasil do qual possamos nos orgulhar.

Quanto ao escrete, talvez a onda de pessimismo esteja nos impedindo de ver o outro lado da moeda. 

Sim, os craques da seleção são imensamente melhores do que os jogadores que jogam aqui. Sim, os grandes clubes estrangeiros vêm fazer uma limpa em cada janela de transferências, levando o sumo e nos deixando o bagaço. Sim, hoje estamos reduzidos à condição de formadores de pés-de-obra que atingirão seu apogeu lá fora, assim como outrora éramos (e em muitos casos ainda somos) fornecedores de matéria-prima para processamento alhures.

Há muitos motivos para desânimo em 2018


Mas, a excelência de nossos artistas do futebol serve também para comprovar que nem de longe estamos condenados à inferioridade eterna. 


O grito que brotou do fundo de nossa alma em 1958 –Com o brasileiro, não há quem possa!– continua válido até hoje. Mas, precisamos acreditar.

Mais um motivo para nos decidirmos, de uma vez por todas, a tomar nosso destino nas mãos. Até para devolvermos às ruas a alegria que hoje não está existindo mais. 

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