Adriana da Rocha Leite: 'Para que (ou para quem) servem as regras?'
“Não curto postagens preconceituosas, sequer compartilho as besteiras que aos borbotões são ditas por ‘personalidades’. Simplesmente as ignoro, não as colocarei em evidência, tampouco serei a transmissora da ‘má-nova’.”
Confesso que não sou muito tolerante ao óbvio: explicar o que está explícito me causa mal-estar. Nada mais enfadonho. Desgastante. Desnecessário. Mas esta situação está cada vez mais próxima, mais cotidiana, mais presente em minha rotina do que eu pretendia, do que eu gostaria. E está roubando parte preciosa do meu tempo…
Esclareço: sim, estou falando das redes sociais. Estou reclamando do excesso de informações e de notícias falsas, da megalomania de que agora todos são “doutores” em todos e quaisquer assuntos.
Há um desconforto generalizado imperando. Uma postagem pode e não raro gera, debates acaloradíssimos, de pseudo-verdades-absolutas. E eu detesto absolutices: tolices revestidas de verdades!
Não se busca o debate respeitoso (pior, não se quer), a argumentação fundamentada e a comunicação não violenta: quer-se destruir, aniquilar o outro, porque a verdade dele é ridícula, mas a minha, ah, a minha é superior!!!
Pior são as generalizações preconceituosas: todo homem, todo petista, toda loira…a lista é bem ampla, mas sobre isso falarei em momento oportuno (se tiver estômago e paciência…), agora o meu foco são as regras.
Estou chocada com o que observo, principalmente nos grupos de whatsApp. Participo de muitos e cada vez que ingresso em um deles, leio atentamente as regras, para não fugir da proposta inicial, porém, cada vez mais percebo que a maioria absoluta dos participantes (só não atinge a totalidade porque sempre tem alguém que ainda mantém o bom senso) simplesmente ignora as regras: posta em excesso os “bom dia”, “boa noite”, além de notícias falsas (obviamente falsas, bastava uma pesquisa rápida para identificá-las).
Vejo o esforço hercúleo do administrador do grupo em manter o objetivo inicial: postagens de alertas, ratificação das regras e até mesmo alguns “puxões de orelha” no privado. Então, há um pedido de desculpas, normalmente com a justificativa de que foi postado no grupo errado (às vezes acontece, relevemos), mas tão logo deletamos, eis que acontece novamente, novamente e novamente e novamente….
Quanto tempo perdido!
A postura de alguns membros realmente me faz refletir sobre o futuro da espécie humana e sua capacidade de viver em harmonia e respeitar as diferenças, principalmente quando se trata de profissionais que deveriam zelar pela linguagem ética, pelas palavras amorosas e pela comunicação não violenta, pois são formadores de opiniões, porém, o que postam refletem o que de pior se pode observar: ódio, violência, intolerância e preconceito! Racismo, machismo, homofobia! Os adjetivos são sempre uma forma de agressão. Piadas sexistas, além daquelas contra loiras, gays, negros, crianças e minorias.
E ainda argumentam que o mundo está muito chato em razão do “politicamente correto”. São as mesmas pessoas que dizem como se fosse engraçado: perco o amigo, mas não perco a piada! E quando se veem encrencados dizem “era somente uma brincadeirinha!”.
Não curto postagens preconceituosas, sequer compartilho as besteiras que aos borbotões são ditas por “personalidades”. Simplesmente as ignoro, não as colocarei em evidência, tampouco serei a transmissora da “má-nova”.
Não me interesso em participar de grupos que disseminam ódio e destilam sua raiva em textos agressivos e imagens deturpadas. Não saí de nenhum grupo ainda porque eu os analiso, são uma excelente fonte de pesquisa sobre os tempos e relacionamentos líquidos. Mas confesso que já passei mal várias vezes ao me deparar com comentários, vídeos e postagens impregnadas de “antis” e eu sou mais pró (vida, amorosidade, comunicação, empatia).
Sim, é um desabafo e também um alerta: somos mais humanos quando conseguimos expor nossos pensamentos com respeito, sem violentar o diferente, sem adjetivar negativamente suas ações. Palavras são sentenças: idiota, vagabunda, bêbado, fanfarrão, ladrão, marginal… Quem tem condições para julgar? Quem conhece o contexto dos fatos ou há mera repetição robótica do que é imposto pela mídia? A ação é de ingenuidade ou de má-fé?
Eu ainda acredito que regras existem para facilitar a convivência e não para serem quebradas. A convivência humana me é um desafio saboroso, que quero compartilhar com os amigos, brindando às diferenças e não posso me silenciar diante dos abusos daqueles que querem apenas tumultuar e disseminar sua frustração através de imagens e palavras.
Sou humana! Insuportavelmente…
Adriana Rocha – adriana@lexmediare.com.br