Sônyah Moreira: 'Dois mundos'
“As condições de trabalho deixam a desejar, não há o menor conforto nem para as refeições, pessoas indo e vindo num frenesi louco, cada um com seus dramas, suas histórias, seres humanos iguais a mim, e a você.”
Caríssimos! Vocês já pararam pra pensar nas diferenças que existem no mundo?
Não estou dizendo em diferenças raciais, ou de gêneros, essas não podem sem consideradas diferenças, estou dizendo as sociais.
Em um tour pela cidade, entramos em uma zona onde se respira uma atmosfera de labuta diária, pessoas lutando, cada uma a seu modo pelo pão de cada dia, literalmente com o suor de seus rostos. Neste lugar, sentimos como se estivéssemos em uma guerra, porém, uma batalha saudável, pessoas no auge de suas forças físicas buscando seu ganho, e que mágica essa sensação de vitoria no fim do dia! Esse lugar especificamente é uma das ruas mais conhecidas de São Paulo (capital), a 25 de Março.
As condições de trabalho deixam a desejar, não há o menor conforto nem para as refeições, pessoas indo e vindo num frenesi louco, cada um com seus dramas, suas histórias, seres humanos iguais a mim, e a você.
Talvez, nesse lado do mundo em que vivemos as condições de trabalho, pode-se dizer que são de privilegiados, não existe um lugar como aquele cá pelos lados de nosso interiorzão.
Aqui a vida é mais vagarosa, as distancias são menores, claro que existe a correria diária pelo ganho do pão, todavia, é mais confortável e menos agressiva.
Dois mundos! A mesma cidade, uma metrópole como São Paulo, com divisões extremas, um lugar onde se ganha o pão nosso de cada dia, literalmente com o suor do rosto. Subindo a ladeira Porto Geral, chega-se ao centro velho da magnífica cidade, onde antes, existia o glamour das elites, hoje contempla a miséria humana. O cenário é desolador, digamos, que a impressão é que entramos em um filme apocalíptico, figuras esquálidas, se misturam ao concreto das construções em decadência.
É extremamente dolorido, ver que semelhantes vivem em condições subumanas. Mais triste ainda, ver um bebê, que nem ao menos se apercebeu de sua existência terrena, engatinhar no chão fétido.
Os prédios em ruínas, as calçadas imundas, corpos decrépitos estendidos pelo chão, uma mistura de fezes, lixo, restos de comida. Uma visão impossível de não tocar o coração, e que nos faz perceber nossa imoralidade como seres humanos.
Dois mundos! Há de perceber que nesse ambiente, o suor é de dor, de febre, de fome, a tristeza nos olhos desesperançados é nítida, dois mundos!
As cenas apocalípticas lembram o final dos tempos, jovens sem perspectiva alguma, andam como zumbis. Criaturas bípedes, misturadas aos quadrúpedes caninos e felinos, á procura de comida em lixos espalhados pelo chão, uma selva de pedra, um submundo, seres em uma condenação perpetua de um purgatório.
Dois mundos! Há quem diga que são seres acomodados, pode ser! Não há dúvida; que no meio desse quadro desolador, existam sim, aqueles que já se entregaram de maneira irreversível, como se o lixo impregnasse em sua pele e em suas almas. Entretanto, não podemos achar que estejam felizes e satisfeitos com tal situação, e deixar de nos incomodar, ficando apenas a indiferença.
Gostaria muito de ver pessoas, que estão sempre insatisfeitas com suas vidas, gente que reclama de tudo, até do brilho Sol, ir lá, interagir entre esses dois mundos.De um lado o da luta, da guerra diária, e do outro o da desesperança, do desespero, da fome, um verdadeiro inferno, como o descrito por Dante Alighieri (1265-1321).
Hoje, não precisamos sair do conforto do lar, para contemplar a miséria, ela estampa diariamente os noticiários televisivos, podemos fingir não enxergar. Na minha visão de fim de mundo, não adianta alguns possuir conforto se a nossa volta, a maioria não tem o mínimo necessário para a sobrevivência digna, somos seres gregários, precisamos uns dos outros.
A solução está em nossas mãos. Não podemos buscar ajuda em outra espécie, que não a nossa. No reino animal, somos os únicos que agride o semelhante gratuitamente.
Estamos no topo da cadeia alimentar, e por conseqüência, na base de sustentação da vida no planeta Terra!
Dois mundos, com os mesmos protagonistas e antagonistas; apenas os seres humanos! A única diferença está no enredo!
Será que viemos ao mundo apenas como passageiros? Nossa breve história poderá ser apagada com um simples movimento dos eixos terrestres.
Será esse o final da história de protagonistas tão especiais?
Sônyah Moreira – sonyah.moreira@gmail.com