Paulo Roberto Costa: 'Discutindo o relacionamento'
“Você mudou ou fui eu que mudei? Onde é que eu errei? Não consigo chegar a uma conclusão. Então fico me lembrando de quando nos conhecemos.”
Meu Deus, como eu queria entender você! Talvez até mais do que eu queria que você me entendesse, pois as coisas estão ficando muito confusas para mim. Cada dia mais.
Não sei explicar o que está acontecendo. Hoje, por exemplo, você acabou de chegar a casa e, pela sua expressão, eu logo percebi que seu dia talvez não tivesse sido muito bom. Você nunca me fala nada sobre isso. Eu, normalmente, faço tudo para te mostrar minha alegria ao te ver chegar. Vou ao seu encontro, me agarro a você, tento te dar todo o meu carinho e a minha atenção, mas, muitas vezes, como hoje, você quase que me ignora. Coloca suas coisas na mesa, joga-se no sofá com uma expressão de cansaço e, às vezes, de preocupação e fica calado. Eu, respeitando o seu silêncio, chego cautelosamente e me encosto levemente em você, para mostrar que estou a seu lado não importa o que esteja acontecendo, aguardando que você me fale alguma coisa e torcendo para que este não tenha sido um daqueles dias em que você claramente não quer ninguém por perto e vai se afastar assim que eu me aproximar, ou, simplesmente, me repelir bruscamente, como já aconteceu algumas vezes. Depois de certo tempo, como você não me dá atenção acabo me afastando, imaginando o que pode ter acontecido.
Você mudou ou fui eu que mudei? Onde é que eu errei? Não consigo chegar a uma conclusão. Então fico me lembrando de quando nos conhecemos. Como tudo era diferente! Você chegava a casa chamando por mim e já abria os braços quando me encontrava. Abraçava-me sorrindo e, pelo tom da tua voz, eu sabia que estava feliz em me ver. Algumas vezes me trazia até um pequeno presente. Lembro-me que ficávamos juntos o tempo todo e você falava sem parar. Eu nem entendia muito bem o que você falava mas ficava feliz somente em ouvi-lo. Você estava sempre me fazendo carinhos e parecia que estava sempre preocupado comigo. Perguntava como tinha sido o meu dia, o que tinha feito, como eu estava e até se eu tinha me alimentado bem.
Ao longo dos anos desenvolvemos um hábito de dar uma volta ao final do dia. Como eu adorava esses nossos pequenos passeios ao final das tardes! Parecia que o mundo não importava e o tempo não contava. Fazíamos as coisas sem pressa e sem preocupação. Aos finais de semana você sempre me convidava para conhecermos um lugar diferente. Lembro-me de todos os parques que fomos visitar. Passávamos horas maravilhosas. Você fazia questão de demonstrar seu amor por mim na frente de todos, me abraçando e rindo. Essas lembranças é que tornam mais difícil entender o que mudou. Aliás, nem sei quando essas mudanças começaram nem porquê. Hoje em dia parece que tudo o que você faz comigo é por obrigação e que nem sente mais prazer em estar ao meu lado. Cada dia minha preocupação aumenta mais com o seu distanciamento e tenho até o receio de que você tenha se cansado de mim e, uma hora dessas, resolva me trocar por outro cão.
Paulo Roberto Costa – paulocosta97@gmail.com