Jairo Valio: 'Drogas'

“Um jovem de nível social elevado envereda para o vício das drogas, sem que se entenda as razões para ter essa opção de vida que lhe consome as entranhas, pois nada lhe falta, a mesada é farta e generosa, tudo é facilitado, reciprocidades não lhe cobram.”

 

Um jovem de nível social elevado envereda para o vício das drogas, sem que se entenda as razões para ter essa opção de vida que lhe consome as entranhas, pois nada lhe falta, a mesada é farta e generosa, tudo é facilitado, reciprocidades não lhe cobram.

Pode ter-lhe faltado um pouco de carinho, atenção, principalmente nas horas de indefinições, das dúvidas, incertezas, tão comuns, sobretudo na puberdade. Sem alternativas, procura então outros caminhos para suprir essas carências afetivas.

Dá-se ao luxo  de escolher a droga que mais combina com seu perfil, o extasy sintético, criado em laboratórios, que somente usuários de alto poder aquisitivo podem ter acesso.

Os pais não notam mudanças de comportamento e, quando despertam para a dura realidade, já é tarde. O filho viciado deixa de estudar, torna-se agressivo e sua obsessão é a droga, dominadora de todas suas atitudes, e dela torna-se totalmente dependente. Sua condição social oculta a vergonha da família, que o interna em clínicas de recuperação, mas o vício é dominante, que se avilta diante das circunstâncias que passará então a viver.

Passa a ter somente um objetivo, a busca desenfreada por mais drogas, que torna-se uma obsessão e experimenta tudo, o baseado de maconha, a cocaína, formando carreirinhas que cheira alucinado e por fim, de forma degradante, o crack, sujo, misturado com todas as impurezas, tão falado, que busca em qualquer esquina, ele está disponível, é só buscar até nos becos das favelas. Não comanda seus raciocínios, sua inteligência se desintegra, mesmo que tenha cursado as melhores faculdades e o fim é melancólico. Seu corpo definha, e ao olhar no espelho, se assusta ao ver que aquele jovem outrora vigoroso, com aparência que tirava suspiros de garotas, é agora de aspecto repugnante, esquelético, sem atrativos, pois até da higiene pessoal se descuida, cheira mal e não passa mais a se cuidar, pois perde suas vaidades.

De outro lado, na periferia, num barraco, outro jovem, de infância sofrida, sem um pai para lhe atestar sua identidade, também se entrega ao vício das drogas. Começa cheirando cola, puxa depois um baseado de maconha e termina com o crack, barato, sujo, que nenhuma outra possa lhe comparar, pela sua virulência e poder de dominação.

Para sustentar o vício, comete pequenos furtos, às vezes até um botijão de gás da vizinha ainda mais pobre. Não raciocina, só quer roubar, não importa quem, a droga lhe dá falsa sensação de valentia, escraviza e tolhe todas suas emoções. Entorpece sua mente para que não possa ver as misérias de uma vida tão sofrida, no barraco imundo, sem nenhuma higiene, não tendo família que possa lhe dar motivos para dela se orgulhar. A mãe que o gerou em seu ventre sem demonstrar carinho, foi fruto de desejos carnais ao entregar seu corpo sem nenhum pudor e o instinto de mãe, tão sublime, não existe nem quando amamenta a criatura frágil, nascida de pai ausente.

Viciado, torna-se dependente da droga virulenta que consume suas fracas energias e o aspecto é assustador, maltrapilho, sujo, cheirando mal, destituído de vaidades, se arrastando nas sarjetas, onde encontra abrigo ao relento, passando frio, fome, sem teto para morar.

É assim o triste destino de dois jovens, que servem de parâmetros para que outros jamais entrem no mundo das drogas, perverso, cruel, sem volta. Esquecem o amor, ignoram a namoradinha de seus sonhos, o perfume das flores, não notam o sorriso de uma criança, perdem todas suas sensibilidades. Tudo é negro, a vida perde sentido e o fim é cruel, a morte prematura numa idade que deveria ser de sonhos e ilusões.