Pingo, colunista do ROL é alvo de matéria da TV TEM
Tetraplégico pinta quadros com a boca e rejeita ‘rótulo de exemplo’
Morador de Itapetininga (SP) encontrou na arte nova inspiração para vida.
Para pintar quadros, o tetraplégico Leandro Camargo de Oliveira, ou Pingo, de 35 anos, não pode contar com as mãos. Mas a técnica, a imaginação e a boca são o bastante para criar desenhos misturando cores e texturas. Quem descobre a arte do morador de Itapetininga (SP) ressalta a capacidade do tetraplégico, muitas vezes o apontando como “um exemplo”. Ele, porém, rejeita o “rótulo” e conta que desenha apenas para se sentir feliz: “Ser exemplo me impede de errar, e eu erro muito. Que exemplo é esse que se envolve em um acidente de moto e nunca mais pode andar? Para mim é normal desenhar com a boca, pois faço isso apenas para ter uma inspiração e não me tornar um ‘reclamão’”, afirma.
certo’ (Foto: Arquivo Pessoal/ Leandro de Oliveira)
Vítima de um acidente de trânsito em 2000 quando tinha só 20 anos, Pingo encontrou a arte há nove anos. Começou pintando com o braço direito, o único com movimento após sessões de fisioterapia, usando o adaptador para ter firmeza com o pincel. Em janeiro de 2014 resolveu mudar e começou a apostar no desenho com a boca. Nesse tempo já fez 13 quadros, todos de cenários da natureza.
“Ainda estou me adaptando, então, para aprender bem faço quadros de ambientes, mas futuramente quero desenhar pessoas também. Parece difícil, mas não é. Ficou até mais fácil porque, com a mão, pintava sob a mesa, agora com a boca o quadro fica na minha frente, então, é mais fácil ter percepção do todo”, conta.
Pingo diz que se interessou pela pintura depois de seis anos difíceis que enfrentou o período de readaptação. Antes do acidente era independente e vivia um dia a dia intenso. Depois teve que se adaptar à nova rotina e se acostumar a precisar dos outros. ”Tudo mudou. Até os amigos, que eram inúmeros, sobraram bem poucos. Mas sou meio tonto e sempre preferi rir a chorar. Na verdade posso ter ficado triste e com vontade de desistir, mas nunca demonstrei porque isso afetaria meu pai, mãe e irmã. Eles já tinham sofrido muito com o acidente e não seria justo”, explica.
Até agora ele teve três professores que o ensinaram a arte. Em 2006, a irmã propôs a ele buscar a pintura como forma de terapia e passatempo. Ela procurou ajuda, mas só recebeu negativas de professores, dizendo que por ser tetraplégico talvez não estaria incentivado e só iria reclamar. “Isso foi bom, essa negativa só me deixou mais determinado do que se fosse aceito. Só de raiva comecei a mandar e-mails para vários professores de pintura, até que uma me respondeu: deu o primeiro material e me passou aulas online. A partir de então não parei mais. Fiz curso presencial e também online, que ajudaram a aprimorar meu trabalho. Hoje em dia uso apenas as sete cores primárias para pintar os quadros”, diz Pingo.
Ele vendeu apenas alguns dos tantos quadros que já fez. Lamenta só que não sabe apontar o preço para os interessados em comprar. Ele se diz feliz com elogios e críticas por saber que está no “caminho certo”, mostrando que tem capacidades e limitações como qualquer um, o que evita que sintam pena dele.
“Muitas pessoas me dizem que não conseguem nem desenhar uma casinha, e como consigo? Mas quando pergunto se elas já tentaram, a resposta é não. Então, como seria possível que elas conseguissem?”, reflete Pingo.