Celso Lungaretti: 'O General Heleno, ministro da Defesa no caso da vitória ultradireitista, pregou uma guerra de extermínio nos morros cariocas

Celso Lungaretti: O OVO DA SERPENTE ESTÁ SENDO CHOCADO SOB NOSSOS NARIZES

 

Só não vê quem não quer: as recentes juras de amor eterno à Constituição do presidenciável ultradireitista Jair Bolsonaro valem tanto quanto as promessas de Adolf Hitler na década de 1930, de que a Alemanha sossegaria se as potências da época lhe permitissem anexar tal ou qual país livre.

Permissão concedida, ele engolia a refeição no almoço e na janta já exigia sinal verde para outra ocupação, garantindo que, daquela vez sim, seu apetite pantagruélico seria saciado. E a novela se repetia.

Na mesma linha, o (i)legalista Bolsonaro anuncia o general Augusto Heleno Pereira como seu ministro da Defesa caso os brasileiros sejam tão ingênuos a ponto de eleger um incendiário ao invés do bombeiro de que a nação desesperadamente carece neste instante.

Trata-se de um alto oficial que geralmente evitou expor suas convicções desumanas, mas abriu o jogo em duas ocasiões. Ao passar à reserva, em maio de 2011, deve ter-se emocionado e teceu loas públicas à ditadura militar.

Pior ainda foi quando, no último mês de março, tentava justificar numa entrevista, os resultados pífios da intervenção militar no Rio de Janeiro e saiu-se com esta frase tipicamente bolsonaresca:

É assim que ele gostaria de agir nos morros cariocas?

A Colômbia teve 50 anos de guerra civil porque não fizeram lá o que foi feito no Araguaia.

Aquele país teve que passar 50 anos lutando com uma organização terrorista”.

Como as novas gerações talvez ignorem o que o Sr. General estava querendo dizer, eu explico: de 69 militantes do PCdoB que implantavam a guerrilha naquela região e acabaram sendo surpreendidos pelo Exército antes de iniciarem as operações, eis o balanço das baixas:

  • na 1ª fase (1972/73) foram mortos 12 e presos 5;  e
  • na 2ª fase  (1973/74), dos 35 que sobraram nas matas, todos foram assassinados.

O nome técnico dessa nojeira é guerra de extermínio.

Pateticamente, o Sr. General se queixou, noutro momento da mesma entrevista, do “preconceito que continua a existir contra os militares”. Por que será?

Afinal, o que o general fez de tão chocante no Haiti?!

E existem duas outras nódoas indeléveis na folha de serviços do general, apontadas pelo veterano jornalista Jânio de Freitas:

“[No] tempo em que foi auxiliar do general Cardoso no Planalto de Fernando Henrique (…) constatou-se (…) que o general Heleno era o mais frequente contato do juiz Nicolau dos Santos Neto, (…) juiz mais tarde condenado e preso por corrupção na obra do novo Tribunal da Justiça do Trabalho, em São Paulo.

Lalau passava ao general Heleno, com presteza sistemática, informações sobre os graúdos paulistas e seus negócios, os políticos, a imprensa. Entre outros temas. Era a preservação do policialismo, com todos os seus defeitos…

… o general Heleno [também] poderia (…) esclarecer o eleitorado sobre um fato sempre omitido. Seu nome é acompanhado, muitas vezes, de citação ao comando que exerceu da Força brasileira no Haiti.

Sem referência, jamais, a que esse comando foi encerrado bem antes do prazo, por um motivo sem precedente: a ONU pediu que o general brasileiro fosse retirado do comando…”.

Como as hordas bolsonaristas reagirão quando o líder não entregar o que lhes prometeu?

A pergunta é: por que o ex-capitão encrenqueiro, que sempre expressou sua admiração pelo comandante (Brilhante Ustra) do pior centro de torturas dos anos de chumbo brasileiros, cerca-se de figurinhas carimbadas como o também encrenqueiro General Hamilton Mourão e, agora, o oficial cuja mão pesada no Haiti estarreceu a ONU?

A resposta é óbvia: por estar, ou planejando dar um autogolpe, ou cogitando dá-lo dependendo da intensidade da resistência a seus desvarios. É para isto que servem tais escolhidos.

Bolsonaro não procura pacificadores para ajudá-lo a administrar as crises que inevitavelmente surgiriam num governo obviamente tendente a turbulências. Está atrás de quem cumpra, no Brasil, o mesmo papel dos paus mandados de Nicolas Maduro, aquele a quem Bolsonaro tanto vitupera mas cujos péssimos exemplos parece prontinho para imitar.

Elegeremos palhaço que tacará fogo no circo?

E existem outros indícios eloquentes do passado monstruoso que se tenta reviver.

Casos das matanças em cascata (vide aqui) que os bolsonaristas desembestados perpetraram neste final de semana, no mais puro estilo dos ferrabrases de Adolf Hitler durante a escalada nazista; e do uso sistemático e ilimitado da mentira como arma política, só faltando mesmo inculparem os petistas pelo incêndio do Museu Nacional, na linha do incêndio do Reichstag, falsamente atribuído aos judeus.

Então, não restará dúvida nenhuma de que o ovo da serpente está sendo chocado sob nossos narizes.