Carlos Carvalho Cavalheiro: 'Jair… Quem é Jair?' Parte 1
“Na realidade, não se sabe o que esperar do próximo presidente. É possível que nem mesmo os seus apoiadores saibam o que se passa na mente e nos desejos de Bolsonaro.”
Consummatum est! Jair Messias Bolsonaro foi eleito Presidente da República Federativa do Brasil em 28 de outubro de 2018. Não teve a vitória esmagadora, como os seus correligionários imaginavam (chegou-se a cogitar números que representavam entre 60 a 70% das escolhas), mas com 55% dos votos válidos, restando ao candidato Fernando Haddad do PT uma expressiva votação que atingiu os outros 45%, o que fortalece o ânimo da formação de uma oposição.
Na realidade, não se sabe o que esperar do próximo presidente. É possível que nem mesmo os seus apoiadores saibam o que se passa na mente e nos desejos de Bolsonaro. Muitas vezes contraditório, especialmente durante a campanha eleitoral, outras vezes bastante truculento, bastante incógnito, a personalidade de Jair Bolsonaro desperta controvérsias. Ainda em campanha, somente para citar um episódio, o então candidato recebeu “apoio” do historiador estadunidense e ex-líder da organização racista Ku Klux Klan, David Duke, o qual reconheceu semelhanças entre Bolsonaro e os supremacistas raciais dos Estados Unidos: “Ele soa como nós. E também é um candidato muito forte. É um nacionalista. Ele é totalmente um descendente europeu. Ele se parece com qualquer homem branco nos EUA, em Portugal, Espanha ou Alemanha e França. E ele está falando sobre o desastre demográfico que existe no Brasil e a enorme criminalidade que existe ali, como por exemplo nos bairros negros do Rio de Janeiro”, teria dito Duke em reportagem publicada pela BBC de Londres (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45874344). Imediatamente, o candidato rebateu pelas redes sociais dizendo que: “Recuso qualquer tipo de apoio vindo de grupos supremacistas. Sugiro que, por coerência, apoiem o candidato da esquerda, que adora segregar a sociedade. Explorar isso para influenciar uma eleição no Brasil é uma grande burrice! É desconhecer o povo brasileiro, que é miscigenado”. Essa mensagem é assinada pela mesma pessoa que disse que em seu futuro governo nem índio e nem quilombola teriam um centímetro sequer de terra!
Após a divulgação dos resultados da eleição, o programa Fantástico, exibido aos domingos pela TV Globo, veiculou uma matéria em que traça a árvore genealógica de Bolsonaro: descendente de italianos que imigraram ao Brasil fugindo da miséria que assolava a Europa e também de alemães também que aqui se encontravam (https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2018/10/28/familia-de-bolsonaro-saiu-da-italia-no-seculo-xix-para-trabalhar-no-interior-de-sp.ghtml?fbclid=IwAR03oB2-Hu2rI9-x68TFzBlM-Zs6oxgwjChB0ZWlOA1YMB5b4M6h-hmahhs). Do povo brasileiro que é miscigenado, há os que o são somente entre ancestrais caucasianos. Esse parece ser o caso de Jair Messias Bolsonaro.
Sobre sua ancestralidade, Bolsonaro cita com certo orgulho o fato de o bisavô alemão, Carl Hintze, ter pertencido ao Exército alemão de Hitler. O colunista Miguel Enriquez, do Diário do Centro do Mundo, atribui a fala de Bolsonaro a sua personalidade mitômana, a qual criaria histórias fantasiosas para superar os fracassos: “A mitomania parece ser uma forma de Bolsonaro minimizar suas frustrações pessoais. Chegou ao oficialato no fim da década de 1970, quando já não mais havia “terroristas” para perseguir, prender e torturar, e a sociedade brasileira reagia com vigor à ditadura, obrigada a por em marcha o processo de “distensão lenta, gradual e segura” patrocinado pelo general Ernesto Geisel. Não por acaso, a frustração foi compensada pela idolatria em relação ao coronel Brilhante Ustra, o torturador-mor do regime”, diz Enriquez (https://www.diariodocentrodomundo.com.br/bolsonaro-mente-sobre-seu-papel-na-caca-a-lamarca-e-seu-bisavo-soldado-de-hitler-por-miguel-enriquez/).
Não há certeza e nem perspectiva do que virá do próximo governo. Quando questionado sobre diversos temas, Bolsonaro tem se esquivado com respostas evasivas, alegando que formará uma equipe técnica e competente para cada área. Aparentemente, não possui um plano de governo formatado. Jair Bolsonaro afirma que se preparou durante 4 anos para ser presidente. O que transparece é que se preparou para ganhar a eleição, não para governar. Mas o projeto de poder é bem mais antigo.
Graças aos arquivos de jornais antigos – e pela mercê de não termos um funcionário como Winston Smith, do livro “1984”, de George Orwell, que adulterava os arquivos para que se ajustassem às conveniências do governo – podemos acessar alguns dos veículos impressos no Brasil utilizando o instrumento da internet. A Biblioteca Nacional, por exemplo, disponibiliza diversos jornais brasileiros digitalizados.
O Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, traz o nome do atual presidente eleito numa nota publicada em 3 de setembro de 1986, no qual anuncia que o então capitão Bolsonaro fora punido por ter publicado um artigo na Revista Veja sobre o salário baixo dos oficiais e sargentos. A polêmica sobre os supostos baixos salários recebidos pelos militares rende notícias para várias edições do jornal. Assim, o nome de Jair Messias Bolsonaro começa a ser conhecido.
Carlos Carvalho Cavalheiro – carlosccavalheiro@gmail.com