Carlos da Terra – Finados
Carlos da Terra – Finados
É, para mim, um dia muito especial. Aproveito-o para fazer importantes reflexões.
Penso em todos os que já cumpriram seus desígnios e no meu próprio destino.
Quem estará presente nas minhas exéquias?
Quem, entristecido, cantará meu réquiem?
E sobretudo, quem, como eu, lembrar-se-á de mim como eu tanto me
lembro de meus pais…
Vejo agora que meus pais cometeram vários erros, mas não há nenhuma
dúvida que os acertos foram muito maiores e subtraindo-se ainda me sobram muito frutos
decorrentes dos acertos de meus pais. Acertavam mais do que erravam porque invocavam o amor.
Esse que alguns insistem em dizer que não existe.
A rosa que ganhei deles, ainda trago no coração. Levo-a comigo quando, em
finados, vou ao cemitério fazer minhas reflexões e honrar meu pai e minha mãe, em nome de
todos os pais.
Como nada é perfeito, nem mesmo meus pais, há que se ver o valor e
estabelecer alguns parâmetros, muito pessoais, para que se julgue o bem e o mal.
Parece um pouco simples e redundante imaginarmos que o bem nos traz prazer e o mal nos causa a dor.
Fosse assim tão simples e nossa atitude diante da morte seria muito mais fácil, mas há, por exemplo, pessoas que se auto mutilam, flagelam-se, e sentem um prazer
incomparável na dor. Essa dor, com todas as críticas, não pode se encaixar no mal.
E existe a êxtase de drogas e álcool, que por sua vez, causam um arrependimento posterior, que, claramente, não se
enquadram naquilo que convencionamos chamar de “bem”.
Finados é um dia para se pensar nessas coisas e eu, particularmente, acho
que é um dia em que se deve dar vazão à tristeza, à saudade às reminiscências.
Não acho válido ir ao cemitério como numa espécie de comemoração; como
se fosse uma festa. Parece muito inadequado levar as crianças para comer pastéis e outras
comidas na porta do cemitério.
Para este dia, é muito mais coerente o sacrifício do jejum que é, em parte,
semelhante a autoflagelação. Nem que seja um jejum de apenas uma ou duas horas, enquanto se
está no cemitério ou durante o percurso de volta para casa.
Deve-se valorizar a tristeza nesse dia que sentimos tanta falta de nossos pais
e amigos que já partiram
Que nada os perturbe na eternidade
In pace requiescat!
Carlos da Terra
jornalista -MT0059739-SP