Artigo de Pedro Novaes: 'Roda Viva'
Pedro Israel Novaes de Almeida
À medida em que envelhecemos, as opiniões que restam transformam-se em verdadeiras cláusulas pétreas.
São conceitos reavaliados ao longo da vida, produtos de interações e da observação dos fatos históricos. Na verdade, a sociedade sempre premiou a falta de opinião, e ainda costuma premiar com cargos e um amplo rol de amizades as pessoas que tendem a jamais discordar de algum conceito ou valor.
Existem modismos e policiamentos ideológicos que atuam no sentido de massificar os conceitos e valores humanos. Tais tendências induzem à aceitação de tudo o que é considerado progressista ou atual.
Costumes e tradições, diversos, são alvos preferidos de sociólogos amadores, perpétuos plantonistas, sempre à cata de ritos e símbolos alheios, para examiná-los sob a caolha ótica da materialista razão humana.
Firmamos, há tempos, a opinião de que a instituição das disciplinas “Educação Sexual” e “Religião” renderão, ao currículo escolar, mais dissabores que proveitos. A religião deve estar contemplada no ensino de outras disciplinas, como História, Geografia ou Sociologia, sem proselitismos ou negações.
A Educação Sexual deve ser contemplada tão somente nos quesitos de saúde e respeito humano, priorizando a discussão de temas como a gravidez precoce. Tais ensinamentos podem ser objetos de palestras, expediente pouco experimentado na maioria das escolas.
Pelo que temos lido, existe uma tendência a instruir as crianças a usarem cueca e sutiã, e decidirem, após anos assim trajadas, qual opção sexual assumirão. A ideia parece ser de que todos são exceções, à procura de regras.
Na verdade, existe um profundo desrespeito à religiosidade alheia, não raro vítima de racionalismos vulgares, incapazes de entender a fé como foro íntimo, insondável.
Não raro, os desrespeitos e afrontas surgem à pretexto da liberdade de manifestação, sustentáculo da cidadania. Tal liberdade, contudo, jamais foi absoluta, devendo sempre respeitar a integridade alheia.
As cenas que alguns trogloditas introduziram na Parada Gay, em plena avenida Paulista, foram chocantes e desrespeitosas, não caracterizando a liberdade de manifestação, mas a capacidade de infringir, impunemente, dispositivos do Código Penal. Infelizmente, uma manifestação destinada a pregar a tolerância e respeito humano acabou por alimentar sentimentos opostos.
Sem valores, conceitos e tradições, nenhuma sociedade sobrevive, e convém preservá-los. Outrora, as invasões e desmontes eram bélicos, e hoje são culturais, transformando povo em gado.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.