Morre a maior figura teatral de Itapetininga em todos os tempos: Margha Bloes
A teatróloga Margha Bloes marcou sua vida com as peças que produziu
Margarida Maria Bloes, nascida em 09 de fevereiro de 1942, em Capão Bonito, São Paulo, foi morar em Itapetininga, ainda criança. Lá, foi professora e desenvolveu seu talento como teatróloga. Era filha de Pedro Bloes e Brasiliza Lucas Bloes. Ele, musicista de enorme talento, tocava quase todos os instrumentos e era admirado inclusive porque conseguia, com apenas uma audição, registrar a música em pauta, revelando assim um profundo conhecimento da arte musical e um talento extraordinário para a música. Sua mãe era dona de casa dotada de uma enorme tenacidade, o que lhe permitiu ser capaz de criar seus oito filhos, que também se notabilizaram na sociedade itapetiningana: José, João, Terezinha, Luzia, Maria Antonia, Margarida Maria, Antonio Carlos e Ana Maria.
Seu irmão João Bloes, ficou muito conhecido como ‘Padre Bloes’ e mereceu até um obelisco em sua homenagem localizado à Praça João Bloes Neto, na avenida Virgilio de Rezende, centro de Itapetininga. Foi estimado e respeitado pela grandeza de espírito que o identificava e pela sua capacidade de realização. Como pároco da Igreja das Estrelas conseguiu reconstruir a sua igreja e erigir no local um dos templos mais modernos da história da Igreja Católica em Itapetininga. Morreu cedo, vítima de problemas cardíacos
Margha Bloes foi professora, pintora e teatróloga de primeira grandeza. Ainda como professora estadual Margha sensibilizou-se com a qualidade de uma colega, Cecília Pimentel Nogueira, criadora de primeira classe de educação especial para deficientes auditivos em Itapetininga e na Região Sudoeste do Estado de São Paulo e que se dedicava com muito amor à sua missão. Resolvendo homenageá-la, Margha criou sua primeira grande peça teatral: ‘O Milagre de Annie Sullivan’, do autor norte americano William Gibson, baseada no emocionante relacionamento entre uma professora e uma aluna com deficiência. A peça foi pauta da mídia nacional, com matérias, entrevistas e reportagens publicadas pelos principais jornais, rádios e televisão da época e mereceu até uma exposição realizada no Shopping Center Itapetininga. Para permitir a realização desse empreendimento, Margha fundou, em setembro de 1982, o grupo teatral Théspis – Theatrum Specta Itapetininga Scholarum, declarado de Utilidade Pública pela Câmara de Itapetininga no ano 2000. e, utilizando apenas atores a atrizes voluntários extraídos da comunidade, conseguiu montar a peça. O sucesso foi estrondoso e repercutiu até na capital paulista, tendo sido citada com destaque em matéria referente ao Dia do Professor publicada no Jornal Nacional (TV Globo).
Detalhista em tudo que sempre fez, Margha levou adiante seu talento para o teatro e se dispôs a mais uma ação fantástica: escrever, juntamente com seu sobrinho Flávio Bloes e também montar, a peça semiópera ‘Intróitus’, ambientada no século 18 na Itália. Sem medir condições de realização, novamente optou pela escolha de atores não profissionalizados e, com a ajuda de empresários itapetininganos e da região, conseguiu, depois de oito anos de intenso trabalho, montar essa peça teatral que lhe valeria sucesso até internacional. Após várias apresentações em Itapetininga, a semiópera Intróitus foi alvo de grandes matérias publicadas no programa Fantástico, da Rede Globo, com muitas citações elogiosas também nos jornais da emissora.
Mais recentemente, há quatro anos, aceitou mais um desafio: montar uma peça contando a história do santo Francisco, em atendimento a um pedido de Maria Inês Vasques Ayres Bernardes, da Fundação N.S. da Divina Providência. Após três anos de procura por condições, experiências com a formação de um novo grupo de artistas, todos amadores, conseguiu, em 29 de novembro de 2017, apresentar na Catedral Nossa Senhora dos Prazeres, de Itapetininga, a avant-première da peça ‘Simplesmente Francisco’ perante um público que lotou as dependências do templo não só nesse dia de estreia, como em todos os quatro dias de apresentação programados mais um ‘extra’ solicitado pela população. A peça foi aplaudida pelos maiores personalidades da Igreja Católica, merecendo elogios do próprio Papa Francisco. ‘Simplesmente Francisco’ foi resultado de mais um grande esforço pessoal. Mais um sucesso estrondoso de público e de crítica. Mais uma vitória de Margarida Maria Bloes, a tão admirada Margha Bloes.
Margha veio à vida para deixar marcada sua passagem por aqui. Sem inimigos, respeitada por autoridades e por toda a comunidade, até por fiéis de outras igrejas, ela conseguiu elevar o nome de Itapetininga como centro cultural de grande importância teatral. Humilde, Margha Bloes recusou inúmeras homenagens, inclusive a de Cidadã Itapetiningana, que lhe foi oferecida pelo vereador Fuad Isaac e só atendia jornalistas às vésperas das apresentações de suas peças, dedicando o sucesso ao seu grupo de artistas.
Seu inesperado falecimento no dia 21 de dezembro, dez dias após ser operada do coração no Hospital Dante Pazzanesi, centro médico cardiológico considerado referência em toda a América Latina. A notícia sensibilizou e comoveu pessoas de todas as cidades da região, inclusive de Capão Bonito, sua cidade natal.
Ao seu velório, realizado no salão da Funerária Camargo, compareceram para confortar seus familiares, praticamente toda a comunidade cultural de Itapetininga. Cena digna de destaque foi a presença dos artistas que trabalharam nas peças montadas por Margha Bloes e realizaram uma emocionadíssima cena, cantando músicas das peças produzidas por ela e declamaram o ‘grito de guerra’ do Thèspis: “Uns querem, mas não podem. Outros podem, mas não querem. Nós queremos e podemos!”.
O mesmo ocorreu durante seu enterro, às 15h30 do dia 22 de dezembro de 2018, no cemitério do Santíssimo, em Itapetininga.
A missa de 7o. dia será dia 29 de dezembro, sábado, às 19 horas, na Catedral de Itapetininga e será celebrada pelo Padre Reinaldo Ramos, ele mesmo um dos ex-artistas da equipe do Thèspis..