Na seção 'Entre Nós e o Público', o editor Sergio Diniz entrevista o colunista Rogério Sardela
Jornalista, cantor, desenhista, ator e autor teatral, o itapetiningano Rogério Sardela é um navegante de vários Mares Culturais
Com apenas 44 anos de idade, Rogério Brás Sardela, ou simplesmente Rogério Sardela, como é mais conhecido, tem um impressionante currículo profissional, na área jornalística e cultural.
Desde muito jovem já demonstrava uma forte atração pelas artes em geral, a começar pelo desenho, como comprova a cartinha que enviou à Editora Abril, quando então com 14 anos de idade, questionando sobre qual era a espada mais poderosa dentre alguns personagens famosos de desenhos animados da época.
Colunista do Jornal Cultural ROL, onde escreve sobre Artes&Espetáculos, Sardela cedeu um tempo do seu trabalho profissional para bater um papo com o editor Sergio Diniz.
Sergio Diniz: Sardela, quem priva de sua amizade sabe que você, na adolescência, já demonstrava um grande talento para a escrita, talento esse que, em seguida, levou para os textos teatrais e, também, para o jornalismo. Como surgiu o talento para a escrita? Que influências você recebeu? E que tipo de leitura lhe atraia?
Rogério Sardela: Desde criança via novelas com minha mãe e irmãs. Lembro-me de ter sete anos e já ver esse tipo de programa. As novelas tinham mais conteúdo. Na adolescência costumava inventar minhas próprias histórias, feitas em quadrinhos em cadernos de brochura e espiral. Fiz muitas. Aos 10 anos frequentava a biblioteca municipal de Itapetininga e lia muito. Curti muito as aventuras do ‘Cachorrinho Samba’, ‘A Montanha Encantada’, ‘Éramos Seis’ (Maria José Dupré), além de fazer leituras de jornais como Estadão e Folha de São Paulo. Ler enriquece o vocabulário e proporciona conhecer as mais diversas formas de linguagens.
Ainda adolescente lia os jornais de Itapetininga, como o Nossa Terra, sem jamais imaginar que um dia viria a trabalhar nele. Não tenho dúvidas que a leitura foi um grande determinante para que desenvolvesse minha escrita. Até hoje estou aprendendo e amadurecendo. É a evolução.
SD: Como se deu a paixão e o encontro pelo Teatro? Por quanto tempo se dedicou às artes cênicas? Quantos e quais textos de sua autoria foram encenados e quais lembranças ou curiosidades marcaram a sua passagem como autor e ator?
RS: Na segunda metade da década de 1980 assisti ‘As Desgraças de Uma Criança’, de Martins Pena, encenada pelo Grupo Teatro Arcoiris. Era também uma criança e aquilo encantou-me. Em 1990 tive minha primeira experiência no teatro no mesmo grupo durante o espetáculo ‘Paixão de Cristo’. Depois participei de outras edições da montagem e cursos de iniciação à arte dramática.
O primeiro papel de fato veio em 1993, quando ingressei no Grupo Teatral Ciranda da Lua, convidado pelo amigo Jorge Abelardo de Barros.
Atuei em peças conhecidas como Sonho de Uma Noite de Verão (Shakespeare), Pluft, o Fantasminha (Maria Clara Machado) e O Auto da Compadecida (Ariano Suassuna).
Como autor escrevi várias peças, tendo encenado de minha autoria ‘A Mulher Que Casou 18 Vezes – Parte II – O Convento’, ‘O Convento das Almas Perdidas’, ‘O Convento das Freiras Sacanas’, ‘Uma Empregada Fora de Órbita’ e ‘Revelações de Um Cinquentão’.
Embora esteja afastado dos palcos há quase dez anos, não deixei o teatro, já que continuo a escrever, tendo outros textos inéditos, prontos para serem encenados.
Tenho planos e convites para voltar neste novo ano.
A Mulher Que Casou 18 Vezes – Parte II – O Convento.
Sobre este texto , uma explicação e uma curiosidade: em 1995 havia participado de um curso e ao final apresentaríamos uma peça. Como eram vários atores, foram formados vários grupos e para aquele que eu participava entregaram um texto chamado ‘A Mulher Que Casou 18 Vezes’, de autor desconhecido.
Uma senhora que faria a personagem principal começou a faltar aos ensaios e me colocaram para ler as falas dela. Ocorreu que acabei ficando com o papel! Fiz a própria mulher do título, chamada de Doroteia Carvalhal.
Como nesta história todos os seus maridos morriam antes da hora H, ela terminava a história infeliz e virgem.
Não achei aquilo justo decidi escrever uma espécie de continuação. Foi aí que surgiu a ideia do convento.
A Mulher Que Casou 18 Vezes – Parte II – O Convento.
Na segunda parte, Doroteia, já na primeira cena, aparece de luto, aceitando sua condição, resolve morar num convento, acreditando que lá terminaria seus dias.
Parodiando o programa Você Decide, da TV Globo, escrevi dois finais para a história e ensaiamos ambos. Um príncipe chamado Jeguival aparece para pedir a mão de Doroteia em casamento. Antes de ela dizer o sim ou não, os atores se fazem de estátuas, como se a cena estivesse congelada e aí entra um ator que faz o papel de apresentador. Ele questiona com o público presente sobre qual final gostaria de ver. Quem quisesse que ela se casasse, que levantasse a mão direita. Se fosse o contrário, a esquerda.
Foi muito prazeroso ter feito esta peça, ainda mais com a estreia justamente dentro da programação da Semana de Artes do Jornal Nossa Terra, a Semanart. Era janeiro de 1997 e durante aquele ano excursionamos pela região, passando por Sarapuí, Guapiara, Ribeirão Branco e até mesmo Sorocaba.
Ainda sobre esta peça, num certo dia apareceu na Redação do NT a atriz Maria Célia Camargo, viúva do ator Altair Lima. O motivo de sua visita era o de divulgar a programação de aniversário da cidade de Guapiara, onde ela era então Secretária de Cultura. Claro que o assunto virou pauta para o jornal e surgiu o convite para que levasse minha peça para lá apresentar, o que aconteceu.
Com a mudança de prefeito, lamentavelmente perdi o contato com Maria Celia, embora durante todos esses anos tenha tentado descobrir alguma forma de retomar a amizade.
Em 2010, para minha surpresa, Maria Célia estava no elenco do remake da novela Ti-ti-ti. Aos 75 anos ela fazia sua estreia na Globo, tendo passado antes por outras emissoras, como Tupi e SBT.
Como sempre escrevi comédias, tenho vontade de escrever um drama.
SD: De que forma a música entrou em sua vida?
RS: Em 1989 participava de um grupo de dublagens de Itapetininga, mas aquilo não me satisfazia complemente e em 1992 decidi que queria mesmo era cantar. Assim adquiri um disco de vinil de músicas variadas e fiz minha estreia num programa da extinta SP SUL TV, de Itapetininga, no programa Show da Criança, da apresentadora Paula Guarnieri. Depois fui convidado para o programa Gente como a Gente, comandado pela dupla Ivan Barsanti e Regina Soares.
Depois participações em saraus culturais, bailes e outras festas. Isto tudo entre 1992 e 1995.
Em 1991 comprei meu primeiro violão e iniciei as aulas. Curtia (e ainda aprecio música romântica). Ouvi muita música sertaneja e popular também. Gosto de Kátia, Lilian, José Augusto, Joanna, Fafá de Belém, Julia Graciela, Roupa Nova, Gilliard, Dalto, Chitãozinho & Xororó, Gian e Giovani e outros.
SD: E o jornalismo? Como foi sua trajetória na imprensa?
RS: Assim como a música e o teatro, foi praticamente ao mesmo tempo. Em 1994, enquanto fazia a pela ‘O Auto da Compadecida’, escrevi para o Espaço do Leitor, do jornal O Popular de Itapetininga, tendo minha carta publicada e respondida pelo editor Helio Rubens de Arruda e Miranda. Descobri que minha amiga de infância, Leila Corinthiana, era colaboradora do jornal na parte de esportes e, depois de um bate-papo, fui apresentado ao HR e para ele entreguei um ‘piloto’ de uma coluna sobre TV. Ele publicou as notas e no dia 23 de janeiro daquele ano, foi uma grande surpresa quando ao comprar o jornal na banca, como fazia costumeiramente, deparei-me com a coluna ‘Mundo Artístico’, que levava minha assinatura.
O Jornal Nossa Terra foi uma grande escola. Depois ingressei em outros como Rota 21, Cidade, Falando D’ Itapetininga, O Correio e O Dia Jornal, além das revistas Visual e Top da Cidade.
Em 1997 tive uma rápida passagem pela rádio comunitária Educativa FM.
SD: Qual é ou quais são suas atividades profissionais atualmente? E como você sintetizaria as experiências nas áreas em que atuou?
RS: Longe dos holofotes sim, mas não das atividades. Continuo a escrever textos teatrais, para meu blog, para o site Jornal Cultural ROL, ensaiando músicas de cantores conhecidos, criando as minhas e digo que o instinto jornalístico nunca morre. Como diz HR, jornalismo está no sangue. Também sou operador de caixa e técnico em segurança no trabalho.
Sintetizando, digo que de toda dificuldade tiramos algum aprendizado. Sempre é tempo. Se errou, corrija. O amadurecimento vem o tempo. Todas as áreas em que atuei foram prazerosas, incluindo minha passagem pelo comércio e entidades de ensino como FKB, IIES e até mesmo o Conselho Tutelar.
SD: Você teve uma passagem rápida pela política. Como ela se deu?
RS: Em 2000 fui convidado a ingressar num partido, nas somente no final de 2015, já em outra sigla, é que decidi disputar para vereador nas eleições de 2016. Foi algo muito rápido. Mesmo sem verba e experiência, obtive quase 150 votos sem necessariamente ter feito campanha, já que dividia o meu tempo entre o trabalho e apresentava minhas propostas. Não sei se toparia disputar novamente, embora moradores do bairro e amigos digam que devo.
SD: Finalizando nosso bate-papo, como você vê a Cultura em relação à cidade de Itapetininga e, por extensão, ao Brasil? E o jornalismo?
RS: Penso que Itapetininga evoluiu na área teatral, embora o público local não valorize muito o que é feito aqui. A cidade ainda não tem seu tão sonhado teatro municipal, como merece, mas apenas locais improvisados. Temos o teatro do SESI, privado, que recebe espetáculos maravilhosos, seja na música ou artes cênicas. A Cultura em si, falando em distribuição de verba por parte dos governos, é a secretaria que possui a menor fatia do bolo, isto quando possui. O Ministério da Cultura foi extinto pelo atual governo federal. Sinceramente vamos ver o que isto vai representar para o restante do Brasil, dos grupos de teatro, dos pequenos projetos. Enfim, quem faz arte muitas vezes faz por amor, mas não se vive apenas de aplausos.
O jornalismo é voz do povo, pelo menos para aqueles que fazem da profissão tal representação.
A mídia impressa diminuiu muito, mas não acredito que desapareça totalmente. Uma tela digital jamais vai substitui o prazer de abrir um jornal e apreciar seu conteúdo, o cheiro da tinta, enfim, viva o jornalismo!