Pedro Novaes: 'Poderosos e personalistas'

Pedro Israel Novaes de Almeida

PODEROSOS E PERSONALISTAS

 

       A atividade política expõe, com absoluta clareza, as virtudes e defeitos humanos.

Por envolver status e poder, tem conferido, a representantes eleitos, prerrogativas pouco acessíveis ao cidadão comum. O poder tem o condão de tornar aparentemente públicos quereres e preferências pessoais.

O político com poder detém a capacidade de nomear amigos, perseguir adversários, autorizar despesas e investimentos, eleger prioridades e iniciar a propositura de leis. No Brasil, o exercício do poder sempre teve grande cunho personalista, sendo pouco reinante o princípio da impessoalidade.

Historicamente, o poder envolve a criação de entornos fisiológicos, que aplaude qualquer atitude, ainda que idiota, do administrador. Qualquer piada do mandatário gera convulsões de risos.

O mandatário tem a prerrogativa de nomear os frequentadores de seu entorno, e pode passar todo o mandato tendo, do mundo, a visão que lhe é emprestada pelo olhar interessado e pouco cidadão de seus áulicos.

O ambiente do poder ressuscita defeitos já domesticados pelo mandatário, tendendo a fazer, do mandato, o exercício de um império. Nossas estruturas de mando extrapolam o simples desempenho de cargo, levando à constituição de reinos.

Povos mais civilizados erigiram sistemas que limitam a ação dos mandatários, opondo-lhe instituições e regramentos amadurecidos. Assim, o cidadão mais poderoso do mundo não consegue construir um simples muro.

Entre nós, são poucas, e quase raras, as instituições de fato, historicamente descaracterizadas e aparelhadas por governos de abreviada visão e alargado personalismo. Governantes despreparados exercem gestões mais ideológicas que administrativas, montando a máquina oficial como um diretório partidário.

Nosso primarismo administrativo é auxiliado pela tênue e já rompida independência e harmonia entre os poderes.  Por aqui, os poderes mais aparentam ser onerosas estruturas de compadrio ou confronto, ao sabor das circunstâncias de cada momento.

Países civilizados contam com órgãos de imprensa independentes, que diariamente lembram, ao poderoso, limitações, erros e acertos. Bons órgãos de imprensa expõem nomes, falcatruas e acertos, gerando respostas sociais que vão do aplauso à inquietação.

A maioria de nossos órgãos de imprensa, impressos ou não, atua de maneira militante, muitas vezes endeusando bandidos ou demonizando santos. O descrédito incentiva a participação em redes sociais, contrapondo fatos e versões. É preciso, sempre, distinguir simples e suspeitos demolidores de reputações, relegando-os à própria insignificância.

Aos trancos e barrancos, seguimos sendo vítimas e artífices de nossa condição, agora com os tapas e beijos de um povo que descobre, a cada dia, o poder das redes, desfazendo mitos e influenciando o exercício do poder. Para atingirmos algum patamar civilizatório, contudo, é urgente a melhor escolha de representantes, eliminando, como prioridade, corruptos e fisiológicos, meros e detestáveis discurseiros.

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.