Fábio Ávila: 'Noite alta, céu tristonho'
Noite alta, céu tristonho
Estamos em uma noite de verão. A chuva, ora torrencial ora continua, denuncia a estação que se apresenta com temperatura baixa – cerca de 18 graus centígrados – sob os milhões de lágrimas celestes que inundam as ruas pavimentadas e impermeabilizadas sobre o solo outrora fértil desta generosa região de cerrado no triângulo mineiro.
Luzes difusas de veículos com os faróis acesos permitem ao olhar atento apreciar o sapatear das gotas que, como pequenos cristais dançantes, serpenteiam encostas abaixo e se unem na formação da enxurrada dispostas a preencher, predispostas a inundar, as áreas planas que permitem o afogar a vida da flora existente nas baixadas submersas pela força da natureza pluvial.
O sentimento de profunda nostalgia e de sensações diluídas do estar no verão, lembra-me o túnel do tempo não vivido embora presente na busca de compreensão da vida de outrora. Em outros tempos, décadas, ou talvez séculos já passados.
Que memória é essa que me entristece e me angustia? Porque tanto desgaste? Meu corpo está no século XXI mas minha alma errante se encontra nas primeiras décadas do século XX.
“Pai meu onde estas que não me escutas?”
“Mãe minha onde te escondes?”
Sigo no desvairo em busca da essência no desatino do labirinto das realidades terrestres.