Celso Lungaretti: 'Saibam o que pretendiam os autores do vídeo obsceno que Bolsonaro divulgou e fez bombar'
Estavam certos os cômicos do século passado:
são necessários três patetas para produzirem uma boa patetada
Então, os dois primeiros aproveitaram um cortejo carnavalesco que atravessava o centro de São Paulo na última 2ª feira (5) para encenarem seu número particular: um pateta subiu num ponto de táxi, dançou ao som de um funk que diz falei pra minha mãe que eu queria ser mulher, introduziu um dedo no próprio ânus e, finalmente, recebeu do outro pateta um jato de urina na nuca.
Na patética visão desses dois patetas, tal encenação repulsiva equivaleu a um “ato político contra o conservadorismo e contra a colonização dos nossos corpos e nossas práticas sexuais”.
Vídeo postado no YouTube, ambos os patetas acreditaram que tinham desfechado um golpe decisivo contra a repressão sexual no planeta Terra, enquanto o que fizeram foi apenas acrescentar uma besteirinha de muito mau gosto à miríade de outras tantas que pululam na web.
E tal besteirinha passaria quase despercebida se não viesse um terceiro pateta e fizesse o vídeo bombar, divulgando-o para uma plateia que jamais dele tomaria conhecimento. Apresentou-o como um exemplo “do que têm virado muitos blocos de rua no Carnaval brasileiro”, o que, ficou bem evidenciado agora, verdadeiramente não foi o caso. Até os blocos de rua ele injustiça…
Juntos, os três patetas conseguiram fazer com que uma canhestra patetada fosse tratada como um assunto de estado e colocasse o Brasil em ridículo aos olhos do mundo inteiro.
Nem Larry, Moe e Curly conseguiam criar patetadas que repercutissem tanto e causassem tamanho estrago.
IMPEACHMENT? FALA SÉRIO…
O Guedes é neoliberal. E o companheiro Levy, não era? |
O episódio serviu para comprovar pela enésima vez a total inadequação do Bolsonaro para o cargo que ocupa. Mas, daí a cogitar-se um impeachment por causa da tuitada obscena vai um evidente exagero. Seria outra comprovação do que já estamos carecas de saber: o Brasil não é um país sério.
Dilma Rousseff merecia o impeachment, mais do que por qualquer pedalada fiscal, em razão do gritante estelionato eleitoral que cometeu
Afinal, ela passou a campanha de 2014 inteira acusando os adversários de conspirarem para impor reformas anti-povo, das quais os eleitores só escapariam se votassem nela, Dilma, mas depois correu a empossar um ministro da Fazenda neoliberal, cuja missão era exatamente a de tocar adiante tais reformas.
Quanto a Bolsonaro, há um sem-número de razões consistentes para ele ser impichado, como ter em plena campanha inundado as redes sociais de fake news bancados ilegalmente por empresários (configurando os crimes de estelionato eleitoral e abuso de poder econômico) e a apologia sistemática de torturas e homicídios, afora não ter sido até agora verdadeiramente investigada a possibilidade de farsa no atentado decisivo para sua vitória eleitoral, uma hipótese das mais plausíveis pelo que o vídeo A facada no mito mostrou.
Fazê-lo por causa de uma mera patetada seria uma nova e pusilânime saída pela tangente.