Celso Lungaretti: 'O show temerário pode ser a gota que fará transbordar o copo do autoritarismo'
“FOI UMA DEMONSTRAÇÃO DE FRAQUEZA, NÃO DE FORÇA.
É HORA DE QUEBRARMOS O PRIMEIRO PÉ
DO TRIPÉ BOLSONARISTA!”
Este era um titã (Atlas) |
A prisão preventiva do ex-presidente Michel Temer foi praticamente uma reprise da de outros famosos da política: espalhafatosa e discutível.
Os motivos jurídicos arguidos pelo juiz afinado com o lava-jatismo são inconsistentes e não passam do que, na linguagem das ruas, chamamos de forçação de barra. Das mais tortuosas, por sinal.
O timing da operação revela uma clara disposição de o lava-jatismo dar o troco para quantos o contestavam, agora que está vulnerabilizado por seus fracassos recentes, com destaque para a escandalosa tentativa de obter ilegalmente uma base econômica para suas ambições maiores.
Tudo leva a crer que, pelo contrário, acirrará a reação dos que não aguentam mais suportar essa chocante espetacularização do autoritarismo que já dura cinco anos.
Faz-me lembrar os estertores do jacobinismo, com o qual, aliás, o lava-jatismo tem muitos pontos de contato, pois cada vez mais se evidencia como um projeto de poder, cuja concretização implicaria o estabelecimento de um estado policial
Este é só um ancião no seu ocaso |
De resto, o primarismo das revanches é antípoda do discernimento político. Cabe à esquerda não embarcar em mais este show de autoritarismo rasteiro, como se tivesse desabado um titã e não um combalido ancião de 78 anos.
O momento não é de aplaudirmos uma demonstração inútil de força, mas sim o de quebrarmos o primeiro dos pés do tripé em que se assenta o bolsonarismo: o combate à corrupção sob o máximo de holofotes (que sempre serviu para a acumulação da forças por parte da direita e jamais impediu que a corrupção retornasse adiante, pois é intrínseca ao capitalismo); o moralismo rançoso de inspiração religiosa; e o anticomunismo falacioso e exacerbado.