Carlos da Terra: 'A Expectativa'
A Expectativa
Experimentamos, diferentemente dos nossos recentes antepassados (da era atual), tempos de mudanças muito rápidas e muito estranho seria, se nossos pensamentos não acompanhassem essa dinâmica.
Mas, mudar requer sinceridade para consigo próprio e para com o amigo ou leitor ou interlocutor.
O pensamento pode ser mais ou menos comparado a uma árvore. Quando ela nasce, é muito parecida com as outras e seu formato final é mais ou menos imprevisível e surpreendente. Os ramos crescem aleatoriamente de modo que se torna mais ou menos improvável qualquer expectativa sobre sua forma final e produtividade.
No entanto, quando se trata de nós, pobres seres humanos, se cobra, não bem a coerência, mas a permanência neste ou naquele pensamento, desprezando-se a dinâmica que citei no início deste texto. O que esperam de nós não é bem “coerência” esperam que nos mantenhamos no status quo.
Se manifestarmos hoje uma conclusão diferente de ontem, provavelmente dirão que mentimos no passado ou que “não temos personalidade”.
Porque fazemos isto é, para mim, um mistério mas queremos que, quem um dia procedeu de um modo, proceda vinte anos após, do mesmo modo.
Não há dúvidas que algumas coisas permanecem em nossos pensamentos, mais ou menos como o tronco da árvore, mas outras, como os ramos da árvore, tomam um rumo indefinido e frequentemente nos surpreendem.
Isso não é uma desonestidade intelectual; não significa que vinte anos atrás alguém mentiu e nem mesmo se estava sendo oportunista; significa, outrossim, que o ramo da árvore evoluiu para outra forma. Mudar talvez signifique que hoje estamos um pouco mais espertos.
Lembro-me quando era estudante, que tomei conhecimento do livro ‘Eram os Deuses Astronautas?’ do escritor Erich Von Daniken. Muita gente leu esse livro que, na época, virou filme. O argumento central desse livro era que as pirâmides e outras obras fantásticas fossem obras de extraterrestres. Só assim poderíamos explicá-las devido ao nosso nível tecnológico precário, principalmente naquela época.
Como estudante, jovem, ávido pela verdade, aceitei, como a maioria das pessoas, a argumentação do livro e é claro que ainda não descobri a verdade, mas hoje meu pensamento mudou, como também mudou o ramo da árvore.
Nos dias atuais, o ramo da árvore ficou tão diferente que pode-se dizer que eu estruturei (a palavra da moda de hoje é “configurei”), repito… que eu estruturei uma nova teoria que, provavelmente, mudará a forma dos ramos de sua árvore.
Imaginando a grande tolice que seria os extraterrestres fazerem uma viagem tão longa e exaustiva para, aqui chegando, ficarem fazendo obras sem sentido, fui levado a pensar que muito mais simples seria, imaginarmos que tudo foi feito por nós mesmos, os terrestres, que estaríamos à beira do apocalipse naquela era, como é evidente e iminente também nos dias de hoje.
A tecnologia evolui muito rápido, graças a ela mesma, que propicia um modo eficaz e ligeiro para a comunicação e construção de objetos diversos. Dessa maneira, voltando à hipotética árvore, os ramos desta era estão diversificando, mas infelizmente, no sentido apocalíptico. Essa evolução tecnológica tão rápida possibilitou, em mundos passados, feitos ou obras ainda não conhecidas por nós. Mas… plausíveis! E estão possibilitando também agora, nos tempos atuais!
Em outras eras, os cálculos matemáticos e projeções estatísticas previram a catástrofe e os governantes, os então faraós, mas viviam da mesma forma que os nossos governantes atuais, resolveram preservar os dados ou conhecimentos, por vaidade ou até mesmo por filantropia, para, quem sabe, a próxima humanidade que apareceria após quinhentos ou um milhão de anos, novamente sobre a Terra (quando a radioatividade tivesse esmaecido), pudesse, talvez, evitar a autodestruição como então não teriam conseguido.
Assim, a primeira pergunta que se fizeram foi: “Onde depositaremos as relíquias?”.
Suponho que o diálogo fosse mais ou menos assim:
– Onde depositaremos as relíquias?
– Ah! Vamos deixar no espaço. Eles (referindo-se aos novos povos) evoluirão e encontrarão intactos no espaço. Chegarão até as relíquias e as resgatarão imaculadas.
– Não! No espaço não dá. Pode ocorrer que eles também não cheguem ao ano dois mil e quinhentos e as relíquias estarão perdidas.
– E se nós, então, as colocássemos nas geleiras da terra? Nos polos gelados?
– Também não dá, porque um leve movimento do eixo terrestre, que possivelmente ocorrerá devido às bobagens que fizemos, derreterá as geleiras e o conteúdo se perderá, igualmente.
– Então vamos fazer um grande museu, com geladeiras para preservar os corpos de atletas e pessoas típicas deste mundo para servir aos futuros seres daqui.
– Também não dá. O abalo sísmico e a mera passagem do tempo, provavelmente destruiriam essas edificações que precisariam ser mantidas por aparelhos que não se sustentariam.
De repente alguém vai ter uma ideia simplesmente nada original.
– Então vamos colocar numa pirâmide! A pirâmide vai resistir ao choque pela sua forma geométrica e vamos colocá-la no centro da terra, que é o lugar que “balançará” menos no pandemônio.
– Sim, e temos que cuidar para que não encontrem os documentos muito rapidamente na nova era, porque se os acharem poderão não entender o devido valor e destruírem-nos. Faremos passagens secretas, muito difíceis de encontrar.
(Esta é uma forte evidência de que os fatos realmente se deram porque se o mundo não fosse sucumbir em outras épocas, porque fariam passagens secretas? Não haveria guardas protegendo-as?)
E assim, à beira do caos, levaram tratores e máquinas e pessoas para construir a pirâmide da época que se somaria às de eras passadas. E para auxiliar ao novo homem da terra, para que pudesse evitar o trágico fim à que chegamos, poderíamos, talvez, escrever assim “Decifra-me ou devoro-te”.
Quem está “falando” isso?
É o futuro!!!!
Traduzindo: (ou vocês observam bem o que fizemos e aconteceu conosco ou vocês serão as futuras vítimas porque se vocês não alterarem o rumo, tudo vai acontecer novamente)
E o pior… está acontecendo mesmo. E pela evolução tão rápida da árvore da vida, não falta muito tempo para o final.
– E o que podemos fazer, então?
A resposta a essa pergunta não está na cultura de cada um de nós, nem na vivência, nem na inteligência ou em qualquer texto ou teoria. Por mais “maluco” que possa parecer este texto, ele encontra paralelos na realidade atual e a resposta só pode ser uma:
– Na espiritualidade. Cada um por si e Deus para todos. Não teremos meios de ajudar nem nossos amigos, nem filhos, nem ninguém porque cada um terá se tornado uma árvore de estrutura tão complexa que seus pensamentos, suas decisões e seu destino serão únicos e imprevisíveis. O paradoxo é que andamos em massa para um fim individual e imprevisível.
Carlos da Terra
outono brasileiro de 2019