Claudio Bloch: 'Ciência e Religiosidade'

Claudio Renato Alves de Bloch

CIÊNCIA E RELIGIOSIDADE

O físico brasileiro Marcelo Gleiser, professor da Universidade de Dartmouth (EUA), foi contemplado com o prêmio Templeton 2019, considerado o Nobel da espiritualidade, por ter ele “contribuido excepcionalmente para a afirmação espiritual da vida”.

Gleiser, de formação judaica e órfão de mãe ainda criança, teve a morte como desafio para encarar o além. Se interessou quando jovem pelo taoismo e o budismo, praticou ioga e, a partir de leituras de Einstein, para quem nada era mais importante do que “experimentar o mistério” descobriu também que temas outrora reservados à religião, como origens do universo e da vida, agora eram abordados pela ciência.

Em debate com Frei Betto em 2010, Betto disse que entender o mundo é desvendar a mente de Deus e que a ciência é o reino da dúvida ao que Gleiser completou: “ela se alimenta da dúvida para buscar a verdade. Não existem verdades acabadas, o processo da busca é o processo da transcendência”.

A ciência trata do “como” e a teologia do “porquê”. Não existe incompatibilidade entre espiritualidade e ciência. Muito pelo contrário, o cientista dedica a vida ao estudo da natureza porque é apaixonado por ela. Essa relação é espiritual. Admite ver “a busca pelo conhecimento científico como uma grande busca espiritual, que responde a anseios que estão conosco desde tempos ancestrais.

Nossa visão do mundo caminha de mãos dadas com os avanços da ciência. Nossa espiritualidade também.

Agnóstico, o físico Gleiser concorda que a ideia de Deus não pode ser objeto da ciência pois, como o amor, não é verificável. Pertence a esfera do mistério que supera a nossa racionalidade.

Gleiser, assim como Frei Betto, entende que não se deve confundir religião com espiritualidade, a primeira é uma instituição e a segunda, uma experiência e o esteio da espiritualidade é a meditação.

(Texto extraido do artigo de Frei Betto, Harmonia entre Ciência e Fé, O Globo, 30/3/2019)

 

Claudio Bloch