Fabio Ávila: 'Ouro Preto, minha confidente'

Fabio Ávila

Ouro Preto, minha confidente

Durante o governo de Afonso Pena, Presidente Constitucional de Minas Gerais, ocorreu o início dos trabalhos e obras para que fosse construida Belo Horizonte, antiga Curral Del-Rei que substituía a capital de Minas Gerais, Outro Preto, outrora denominada Vila Rica.

Março de 2019

Adentro Vila Rica. Fico extasiado com o azul de brigadeiro do céu e com a tarde de outono em que os raios de sol douram as fachadas de igrejas barrocas e as belíssimas edificações históricas que, miraculosamente, foram preservadas e resistiram à destruição constante e agressora que ocorre em todo o território mineiro.

Ouço o som e melodia suave que provém do interior de uma belíssima livraria, espaço cultural, onde ocorreria nas horas seguintes um sarau com apresentação de inocentes jovens que sonham em ser autores de livros. O evento me permitiu ouvir as dez primeiras páginas da obra de um dos futuros autores. O conteúdo me parecia “sem pé nem cabeça” porém, a meu ver, vale a intenção de ser escritor.

Continuo caminhando até o hostel onde me hospedaria e reencontro a original e bem humorada Deolinda dos Santos, Rainha de Congada, negra batuta, orgulhosa de suas raízes e da cultura de seus ancestrais.

Senti-me imerso no túnel do tempo da dramática história brasileira: “entre a prisão de Tiradentes, naquele 10 de maio de 1789 e o enforcamento de 21 de abril de 1792, algo mudou na percepção dos portugueses. Prenderam um grupo que, avaliaram no primeiro momento, era formado por contrabandistas de ouro e pedras que trariam para sonegar impostos. Mas seria só isso mesmo? E se o movimento tivesse simpatia além de Minas? E se a motivação não fosse apenas o dinheiro, as dúvidas, mas também ideias?” (da Obra 1789,  de Pedro Dória). Naqueles idos Vila Rica contava com 80 mil habitantes e era a maior cidade brasileira.

José Inácio de Alvarenga Peixoto, um dos poetas da Inconfidência declamou quando do nascimento do nobre menino José Tomás, em sua homenagem: “em seu canto, o poeta vai à Roma, busca mitos da antiguidade clássica, desfila pela história portuguesa, lança mão de passagens do evangelho mas sempre retorna a Minas.”

Perambular por Ouro Preto é pura emoção, é percorrer pelas veias do Brasil profundo que conseguiu liberar-se do julgo da madrasta Portugal.

Vale lembrar que são muitas histórias que encontramos em algumas cidades brasileiras que guardam o semblante de um passado sofrido e rico em cultura e fatos marcantes da trajetória da nação.

Me acompanhe, na próxima semana, pelas ruas da primeira capital do meu Brasil, Salvador!