Pedro Novaes: 'Solução Possível'

Pedro Israel Novaes de Almeida

SOLUÇÃO POSSÍVEL

 

A humanidade, salvo raras e honrosas exceções, ainda sonha com o surgimento de um ditador honesto.

A democracia exige virtudes, respeitos e amadurecimento que costumam ser erigidos ao longo da história dos povos, não rara repleta de episódios de barbárie e privações, que ensinam e moldam a valorização de alguns conceitos e costumes. Povos que já comeram o pão que o diabo amassou são mais propensos ao estabelecimento de democracias.

Por aqui, são raros os momentos em que vivemos, de fato, uma democracia. Nossa história possui mais baixos que altos, e vivemos aos solavancos, desde 1.500.

O brasileiro médio pouco acredita em seus representantes, descrédito alimentado por séculos de desonestidades e pilhagens do patrimônio público. Falsos profetas e líderes de araque pontuaram nossa história política.

Sobrevivemos graças aos pendores naturais do agigantado território, à ação quase anônima de alguns pouco lembrados heróis e ao juízo histórico e civilizado trazido por migrantes de todo o mundo, que aqui aportaram.  As religiões em muito colaboraram para que conseguíssemos atravessar séculos, domando as bestas de sempre, pouco tementes à polícia e com precária formação cultural.

Consideramos os políticos, nossos pretensos representantes, como inarredáveis fardos, e, a cada eleição, nutrimos a esperança de promover renovações capazes de algumas reformas que acabem por diminuir-lhes o potencial de desmandos. Aos poucos, renovações ocorrem, em meio a uma ou outra ilusão, revelada já no início dos mandatos.

Conseguimos, a duras e guerreadas penas, erigir instituições e iniciativas meritórias, como a Operação Lava Jato, que vem trancafiando e empobrecendo corruptos, públicos e privados. A Operação atraiu inimigos poderosos, que tentam, sem tréguas e escrúpulos, desacreditá-la.

Começam a surgir, aqui e acolá, iniciativas e grupamentos que pregam a honestidade e novos hábitos e culturas. Parcela responsável da população parece haver entendido que a água bateu na bunda, preciosa e insubstituível expressão popular.

Sem saúde, segurança e empregos, seguimos palco de verdadeiro surto de ideários simplistas e demagógicos, produtos de chavões tão mentirosos quanto de fácil assimilação. Vivemos a guerra de versões, onde a lembrança dos fatos sucumbe ao primarismo das ideologias que já infelicitaram povos em todo o mundo.

Somos uma sociedade em ebulição, onde as minorias persistem estridentes e as maiorias deixam, aos poucos, de ser silenciosas. O ambiente é propício ao amadurecimento.

Resta acreditar que podemos vencer a crise sem que algum cavaleiro honesto e justiceiro, montado em cavalo branco, venha impor-nos um cenário de ordem e respeito. Convém, a cada brasileiro de boa fé, montar seu próprio cavalo e galopar por aí, difundindo civilidades.

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.