Bolsonaro é o tipo de palhaço que atira uma torta na cara do guarda e depois foge em disparada para não levar uma surra

Celso-Lungaretti

BOLSONARO, OU A INSUPERÁVEL MEDIOCRIDADE DO SER

Right-wing federal deputy and presidential candidate Jair Bolsonaro, gives a thumbs up to supporters during a rally at Afonso Pena airport in Curitiba, Brazil on March 28, 2018.
Bolsonaro, who has repeatedly praised Brazil’s two-decade-long military dictatorship, taunted Lula, calling him a “bandit,” and challenging him in Curitiba to see “who can get the most people out on to the streets without paying them.” / AFP PHOTO / Heuler Andrey

O blogueiro errou. No último dia 25 de março divulguei um prognóstico que, como aqueles dos charlatães fazedores de horóscopos, era uma possibilidade plausível diante de como o quadro político brasileiro se apresentava naquele momento:

…durante a campanha eleitoral, várias vezes escrevi que o predecessor de Bolsonaro havia sido o palhaço sinistro (assim Paulo Francis o qualificava) Jânio Quadros. Inepto para o exercício da presidência, ele se viu emparedado pelo Congresso e tentou aumentar seu poder com uma ridícula tentativa de autogolpe cujas consequências foram terríveis, pois colocou o país na direção de uma ditadura que duraria 21 anos.

Também previ que um eventual governo Bolsonaro, colocando no mesmo balaio (de gatos de beco) tendências políticas e econômicas tão díspares e personagens tão medíocres, não duraria sequer um ano. Pelo andar da carruagem, talvez não dure nem os seis meses do Jânio…

Bem, ele durou os seis meses do Jânio e agora parece remota a hipótese de sua substituição até o último dia de 2019.

Onde foi que eu errei? Apenas em superestimá-lo, ao supor que repetiria a trajetória do palhaço sinistro.

Jânio Quadros, apesar de utilizar performances histriônicas para garantir visibilidade permanente no noticiário, tinha lá suas convicções (autoritárias) e arriscou o mandato para tentar obter o poder necessário para colocá-las em prática. Perdeu.

Jair Bolsonaro é outro tipo de palhaço: o que atira uma torta na cara do guarda e depois foge em disparada para não levar uma surra.

Quis derrubar o prestígio de altos oficiais militares, na esperança de ter o apoio da caserna para suas maluquices ultradireitistas, e percebeu que, se insistisse, o derrubado seria ele. Teve até de colocar uma focinheira no Olavo de Carvalho.

Pensou que conseguiria domesticar o Congresso, mas o Rodrigo Maia fez sua barba, cabelo e bigode.

Acreditou que as ruas o ajudariam a empurrar sua pauta neofascista goela dos brasileiros adentro e recebeu um apoio chocho que não intimidou ninguém.

Então, caiu na real e já se mostra visivelmente conformado com passar os próximos três anos e meio fazendo macaquices e travando sua guerra ideológica contra moinhos de vento secundários, enquanto do principal se incumbe o sistema, como sempre.

O que mais dele se poderia esperar, depois de haver passado três décadas expondo a insuperável mediocridade do seu ser em mandatos de vereador e deputado federal? O destino tirou Bolsonaro do baixo clero da Câmara, mas nada no mundo parece capaz de tirar o baixo clero da alma do Bolsonaro.

Eu viajei na maionese ao traçar paralelos entre quem era brilhante a seu modo e até 1961 vinha conquistando vitória após vitória e quem nunca passou de coadjuvante e está condenado a sê-lo até o fim dos seus dias, mesmo que envergando (e envergonhando) a faixa presidencial. Mea culpa. (Celso Lungaretti)