O leitor participa: Kundiza Di Makutti, de Moçambique, com 'Poesia' e outros poemas

Kundiza Di Makutti

 ‘Poesia’ e outros poemas

Poesia

Somente tu preenches esta alma vazia

Como sopa quente em madrugadas frias.

O teu encanto, os teus dizeres, a dor que me alivia.

Poesia,

Tu és a fonte que me sustenta.

Respiro-te poesia;

Sem ti o universo não faz sentido.

Cante a tua canção,

Inclua-me no teu mundo,

Faça-me viver os teus sonhos, 

Dê-me este presente.

Encha-me desta emoção.

Poesia,

Diga-me: qual tua essência?

Quero conhecer-te.

Mostre-me tua alma: quero sentir-te.

Venha!

Se tu me amas como eu te amo, 

Dê-me esta alegria,

Faça-me viver este desejo, infinitamente.

Poesia,

Faça-me viver esta magia em teus versos nus, em viagens de nostalgia. 

Diga às estrofes o quanto te pertenço, 

Dê-me as respostas do amor que desconheço.

Poesia, 

Seja tu o adereço,

Nada mais, nada menos,

Sem excesso.

Porque, simplesmente, tua presença em mim

É pura paz.

… 

Teu Buzinar

Estava eu a tua espera, naquele apeadeiro de costume, manhã de sol, onde sempre me levas e trazes, nessas tantas voltas que dás por esta cidade onde nasci.

É aqui que te vejo sempre que sinto saudades, quando vou ao encontro do teu buzinar inconfundível, bem ao longe,

O som do teu chegar é audível, é um aviso para o guarda bloquear a passagem de nivel. À espera na fila ficam os peões e os motoristas dos automóveis, ouvindo o track… track… track… das carruagens de gente e produtos diversos passando.

Naquelas linhas férreas construídas ao longo de vastas paisagens deslumbrantes do país, entre pontes e rios, imagens lindas que me fazem esquecer do frio: montanhas multicores, vegetação. Sobre duas linhas, vamos escrevendo histórias e criando memórias em cada paragem ao teu buzinar.

Alma inquieta

Vá!

Avante!

Encontre teu caminho,

Um esconderijo,

Procure o alicerce,

Erga um pilar,

A um encontro para durar.

Vá!

Solte a alma, 

Viage!.

Conheça o mundo inteiro,

Seja tu o empreiteiro

Que desenha os destinos, 

Que traça os caminhos

Dos teus sonhos

Verdadeiros.

Vá!

Mesmo que seja devagar,

A coxear,

Leve o tempo que levar

Para concretizar.

Vá!

Continue com teus passos firmes,

Mesmo que as metas pareçam impossíveis, não desanime.

Lute, avante!

Este é o caminho.

As nossas crenças

Nos testa a confiança

Aquela fé, aquele acreditar de verdade

Sem questionar, entregar a vida

Pra alguém invisível

Zelar tuas palavras,

Teus mandamentos,

Seguir…

Que fé é essa?

Que crença é essa?

Qual é o segredo do acreditar na mudança?

Essa força interior que nos motiva, nos faz lutar, nos dá esperança?

Seja a crença em Deus,

Sejam budistas, agnósticos, ateus, 

Seja a crença que tens nos ídolos teus da ciência, 

Seja qualquer crença da paz que faça feliz teu coração.

Enfrente e acredite em tuas batalhas.

E, quando errar, saiba reconhecer, 

Somos simples mensageiros, 

Entramos em cena somente para interpretar um roteiro, 

Dessa vida que nos ensina e nos educa;

Sejamos nós muçulmanos ou cristãos,

Cada um crê em seus fatos

e com eles faz um pacto com a certeza que leva em seu coração.

Déjà vu

Nunca te vi,

Mas vivo sonhando contigo.

Nas noites de silêncio,

Tu me tens acompanhado.

Nunca te vi,

Mas sinto que existes em qualquer lugar do universo,

E que és linda da cabeça aos pés.

A tua imagem está gravada nas viagens que faço pelas madrugadas,

Durante as noites mal dormidas, 

Na solidão da vida, quando te mentalizo e me distraio.

Por vezes me levas a imprudência de confessar-te quem sou:

Um louco apaixonado pelo teu perfil.

Escrevo-te

Com a ternura

Dos meus vícios e

Das minhas viagens 

Que perduram, 

Escrevo-te

Saudoso de amor.

Escrevo-te

Com a certeza do coração,

Com as palavras mais sinceras 

Da razão.

Escrevo-te

Hoje, agora e amanhã,

Pois o amor que sinto por ti

Igual não há.

Escrevo-te porque, sim,

Tu és o sentido, o sustento, 

O motivo de alegria;

Tu és a vida.

Escrevo-te, amor, porque

Te amo, te amo, te amo tanto!

Porque quando durmo,

Nos meus sonhos, te chamo.

Kundiza di Makutti, poeta moçambicano, é idealizador da JuCaC-Pemba (Juventude Criativa de Artes e Culturas) e da C.A.S.A Moçambique (Centro Acadêmico Sociocultural e Artístico de Moçambique), ativista da ACS-juvenil na coordenação das artes criativas e letras. Participou de diversos concursos literários nacionais e internacionais, destacando-se no FAaC.ComArte, Prêmio Jovem Artista Polop, entre outros. Atualmente Kundiza estuda e escreve sobre a cultura de seu povo.

 

Moçambique

Moçambique é uma nação do sul da África cujo longo litoral no Oceano Índico é permeado de praias conhecidas, como Tofo, e de parques marinhos perto da costa. No arquipélago Quirimbas, uma faixa de 250 quilômetros de ilhas de corais, a ilha do Ibo, coberta por manguezais, tem ruínas da era colonial que sobreviveram desde o período do domínio português. O arquipélago de Bazaruto, mais ao sul, tem recifes que protegem espécies marinhas raras, como os dugongos.