Celso Lungaretti: 'A onda de extrema-direita reflui

A ONDA DE EXTREMA-DIREITA REFLUI: ERA “UMA TEMPESTADE DE SOM E FÚRIA SIGNIFICANDO NADA” (Shakespeare)

celso lungaretti
O PÊNDULO DA HISTÓRIA AGORA SE MOVE PARA A ESQUERDA

Os seres humanos não suportam viver indefinidamente sem compaixão. Então, os períodos de desumanidade capitalista exacerbada vêm, desde o final da 2ª Guerra mundial, alternando-se com os de amenização dos rigores, em que algumas demandas sociais são satisfeitas e se restabelece, aos poucos e por pouco tempo (dificilmente chega a duas décadas), um ambiente de relativos otimismo, esperanças e solidariedade. 

É o que já se prenunciava com o refluxo da onda de extrema-direita nos três principais países em que se testou e foi reprovado o modelo execrável que combinava uma volta ao capitalismo selvagem na economia, ao totalitarismo dos anos de chumbo na política e ao rançoso moralismo medieval nos costumes. 

Trump se estrumbica e vai ser expelido da Casa Branca nas eleições do ano que vem, o governo Bolsonaro derrete e esfacela-se grotescamente e o brexit cada vez mais se demonstra inexequível e desastroso.

Mas, se o bode visivelmente está começando a ser retirado da sala, faltava uma pauta positiva, que mobilizasse os cidadãos para objetivos capazes de lhes proporcionar ao menos alguma melhora em suas condições de vida, já que as receitas ultradireitistas (protecionismo econômico, isolamento nacionalista em contraposição ao globalismo e imposição ilimitada da lei do mais forte) só pioraram o que já estava péssimo.

Daí a importância da evolução em curso nas propostas do Partido Democrata para sua mais do que provável volta ao poder. As quais, lá prevalecendo, evidentemente repercutirão e gerarão consequências em escala global.

Eis um trecho do artigo Mundo precisa dar um jeito em Gotham City, do jornalista Fernando Canzian, que dá uma boa noção dessa guinada:

Seu plano é uma nova taxa de 2% para patrimônio familiar acima de US$ 50 milhões (R$ 205 milhões) e de 3% para os maiores que US$ 1 bilhão (R$ 4,1 bilhões), com potencial de arrecadar US$ 2,75 trilhões em dez anos para políticas sociais. 

Vários pré-candidatos também prometeram aumentar o salário-mínimo nos EUA e fortalecer os sindicatos, cujo declínio seria um dos motivos para a desigualdade recorde no país.

.

O pêndulo da História agora se move para a esquerda. Mas, se não eliminarmos as causas maiores desse movimento pendular, depois da fase do alívio virá outra temporada de horrores e retrocessos, pois o que se vislumbra não é uma solução, mas, apenas, uma daquelas obras de reforço que se fazem em edifícios ameaçados de desabar, para mantê-los em pé por mais uns tempos. (por Celso Lungaretti)