Marcelo Augusto Paiva Pereira: 'O dia seguinte'

Marcelo Augusto Paiva Pereira

O dia seguinte

A pandemia do coronavírus (covid-19) causou a decretação de quarentena pelos governos de muitos dos países ao redor do mundo, muitas delas compulsórias enquanto outras não. Elas ainda permanecem em execução e tem produzido modificações no comportamento comercial, industrial e social da população.

O comércio de bens não essenciais está fechado. Para não falirem, os donos de seus negócios continuam as vendas através da ‘internet’, com vendas ‘on line’. Vários restaurantes, lanchonetes e bares fecharam as portas para a clientela e oferecem as refeições e lanches pela ‘internet’, com entregas a domicílio (‘delivery’). Aumentou, daí, o número de entregas por correspondências e ‘motoboys’.

A indústria também se reinventou. Várias delas passaram a produzir máscaras de papel e de outros materiais para atender aos profissionais da saúde, pacientes e outras pessoas que delas necessitem e evitar a contaminação em razão da proximidade entre elas.

Outras indústrias e empresas decidiram por realizar as tarefas via ‘internet’ (‘on line’), com os empregados nas próprias casas e em frente ao “laptop”, no exercício das tarefas que costumeiramente realizavam quando nelas se reuniam nos dias de trabalho.

Outras mais, porém, continuam com as portas fechadas, sem atividades alternativas… Delas vários empregados tem sido demitidos, enquanto outros negociam seus salários para garantir a permanência no emprego.

Os índices de poluição caíram em muito e várias cidades, conhecidas pelo elevado índice de poluição, adquiriram ar limpo, céu azul de dia e estrelado à noite e águas limpas, por vezes transparentes. Como exemplo, a cidade de Veneza, na Itália. Nosso planeta Terra voltou a ter ar limpo novamente (a última vez foi antes da Revolução Industrial de meados de século XVIII)…

Pessoas desempregadas e outras sem emprego formal descobriram outras habilidades e passaram a cozinhar para vender as refeições, ou a costurar máscaras de pano, roupas de nenê, bordados e outros afazeres aos vizinhos e moradores próximos.

Os fiéis tem assistido às missas e cultos de suas Igrejas através da ‘internet’ ou da televisão, em ‘links’ ou canais específicos. A proximidade com Deus aumentou a intimidade aconselhada por Jesus, no Evangelho de São Matheus, 6, 6: ‘Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora a teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á.’. Assim, nenhum servo ou temente a Deus d’Ele se afastou; ao contrário, reafirmou sua proximidade com Ele.

As pessoas tem repensado as próprias vidas e valores. Muitos destes se tornaram insignificantes enquanto outros, ignorados ou inexistentes antes da experiência da quarentena, vieram à tona e são, hoje, elementares de cada indivíduo.

Efeitos psicológicos gravosos também são previsíveis: depressão e TOC (transtorno obsessivo e compulsivo) surgiram e surgirão em muitas pessoas por alguma comorbidade que dê causa a eles. A solidão é angustiante para quem sempre esteve junto a outras pessoas, ou muito próximas a elas.

A ‘internet’ e o ‘WhatsApp’ servem de ‘válvula de escape’ para atenuar sentimentos nocivos à saúde psicológica. Mas, tem um custo por vezes elevado, que é a conta de luz a ser paga em cada mês de quarentena. Quem tiver condição econômica de suportá-las terá, a qualquer tempo e pelo tempo que quiser, uma janela aberta, ainda que não seja para o céu…

Quando as pessoas saem às compras de alimentos ou medicamentos tem elas se distanciado umas das outras, além de muitas cobrirem os rostos com as máscaras que compraram, ganharam ou fizeram, e assim criaram um ambiente social assemelhado aos filmes de ficção científica de temas apocalípticos. Surreal!!! Mas, contraditoriamente, real!!!!

A redução da produção, do comércio e das atividades profissionais deram causa à diminuição do dinheiro circulante no mercado e da arrecadação tributária das pessoas políticas dos países (no Brasil são os municípios, Estados-membros, o Distrito Federal e a União). Poupar, guardar o troco, tornou-se um dever cívico, patriótico, para ajudar a si mesmo e o país a superar as adversidades da economia devastada pelos efeitos da pandemia do covid-19.

Após esses efeitos, modificativos das nossas vidas e das expectativas para o futuro, acreditamos que o mundo existente antes da pandemia não mais voltará. Com o fim da referida e do ‘degelo’ da quarentena, a vida ressurge e se renova, carregada de novas energias. Então fica a dúvida: como será o mundo a partir do dia seguinte?

Marcelo Augusto Paiva Pereira

(o autor é colunista do Jornal ROL)

Fontes das imagens

EXAME.ABRIL.COM.BR: https://exame.abril.com.br/brasil/estas-fotos-mostram-sao-paulo-vazia-apos-doria-prorrogar-a-quarentena/