O leitor participa: Antônio Fernandes do Rêgo, de Natal (RN): À Itália sofrida'

Antônio Fernandes do Rêgo

À Itália sofrida

Quem nunca visitou ou já ouviu

Falar da Itália, a pátria peregrina,

Lugar onde a arte e graça brincam juntas,

Onde responde o amor por Fornarina.

 

O país que deu à luz a cavatina,

A tarantela e a ópera de Verdi,

Sonho onde o céu passou tão rente a terra

Desde os madrigais de Monteverde.

 

Quem já não viu as praias de Sorriento?

No mar há um brilho belo e verdadeiro,

Que inspirou Giambattista De Curtis

Na canção que encantou o mundo inteiro.

 

“Você viu o mar, o mar tão bonito,

Você viu este mar de Sorriento,

E disse: “estou indo embora, adeus”.

Não, não vá, não me dê este tormento!”

 

O mar sereno onde chorou Caruso

Ao piano, e a música deu tanta dó,

Que até as saudades de lá da América

Na sua dor se fez tornar menor.

 

Roma no Lácio, a Cidade Eterna,

A Fontana di Trevi e o Coliseu

O Vaticano, lar do Papa Francisco,

Que a santa bênção a todo mundo deu.

 

Quem viu a Itália, os seus monumentos,

Estátuas de alabastro, os roseirais,

Lá, dos Doges os tíbios candelabros;

Igrejas, capelas, seus florais?

 

Quem viu a sereníssima Veneza?

Iam qual cisnes a navegar nos veios,

Em gôndolas, casais apaixonados

Aos beijos em românticos passeios.

Na San Marco, a voz do estradivário

Quebrava o silêncio de riso a se anelar

Almas feitas de luz, amor sem termo,

De beijos dados ao sol a fulgurar.

 

Lá, há um palco de história da paixão;

Assim disse Shakespeare: “Não existe

Outro mundo além dos muros de Verona”;

Onde à mente, o drama de um amor persiste.

 

Florença, berço do renascimento,

Michelangelo, da Vinci e Bottichelli,

Estes, os deuses mandaram do Olimpo,

Junto, também, o Dante Alighieri,

 

Rafael, o pintor com suas artes,

Madona Sistina, A Escola de Atenas,

La Fornarina, (sua amante e modelo),

Anjo, Pietá, e mais umas centenas.

 

É Milão o reino encantado da moda,

Onde a arte e a beleza é a harmonia

Que dita design que inspira o mundo inteiro;

Juntam-se aqui a música, a arte e poesia.

 

Ontem, brilhantes, suntuosas cidades,

Hoje sob o reino da nostalgia,

Nas ruas, o som triste das ambulâncias

Que se cruzam, é a rotina de cada dia.

 

Não há um pé de gente nas naves

Do Duomo nem doutras catedrais;

Na praça de São Pedro; Signoria;

São Marco, nos cafés; nem nas demais.

 

Quanta cena infernal nos hospitais,

Quantos navios parados no porto,

Mais um povo confinado sob os tetos,

Quanto talento desbotado e morto.

 

Abraços que estreitavam-se sentidos,

Lembram-te teus dias, amada Itália,

Daquelas tardes de plena harmonia

Entre as papoulas, violetas e as dálias.

 

Pois deste vírus os negros horrores

Sabemos que jamais tu pressentias,

Pisava-te num chão cheio de flores,

Vivia em ti promessas de almos dias.

 

Amavam-se esses sonhos de futuros,

Era assim que se passavam no mundo

Visões de glórias e etéreos aplausos,

Felizes e num descuido profundo.

 

Ah, e agora, país das maravilhas,

Bela Itália, o que é feito de tudo?

De tanta ilusão, de tanta vida?

Avenidas desertas, tudo mudo…

 

A urbe pasma ouve o murmúrio das fontes,

Além das sombras das muralhas as heras

Reverdecem, as flores se entreabrem,

Com as grandes crenças chega a primavera.

 

Há de vir um novo mundo, nova era,

E eu te falarei das graças e do amor;

Se viu-me o rosto molhado de pranto,

É que ninguém é efígie e humano eu sou.

 

E amanhã quando ao som dos campanários

O sol sem nebulosas despontar,

Eu ressuscitarei minha alegria

De ver-te desta angústia despertar.

 

Hoje eu desejo aos casais de enamorados

A santa paciência de esperar

Pois quando houver passado tudo isto,

Com os convivas esta valsa vão dançar:

 

LA VALSA

(Declamada na rádio italiana Vai Vai Brasile Italia,

no 02 de abril do corrente às 22h00 – ver tradução abaixo)

 

Nella vita è cresciuta

La dolce ragazza

Ora capisco,

Che la vita affascina.

 

Di notte scivola

Sulla pista da ballo,

Ripresa sorridente

Tranquilla non si stanca.

 

In visi di seta

Le tazze si incrociano,

Le voci dolci

Tranquillamente si ascoltano.

 

Mio Dio, tutto incanta!

Così lieve come una piuma

La sciarpa vola !

Come il volo di falena.

 

Le tue labbra squillanti

Con un leggero sorriso,

Con le mani che inseguono,

Di passaggio preciso.

 

Che scena bellissima

Nel valzer danzante

Così bello, semplice,

A un ritmo così delicato.

 

Quanto è giovane?

Ciò scorre calorosamente

La notte della festa

Bella e attraente ?

 

Danzando leggera

Con voce vellutata

Che bella pepita.

Lei è la figlia benedetta.

 

Così bella, soppianta,

La rosa all’aperto,

E l’uccello che canta

Nella valle del vento

 

E la sposa domina

Il momento gioioso,

È l’ora divina

Del tuo matrimonio.

 

 

A VALSA

Na vida cresceu

A meiga menina

Agora entendeu,

Que a vida fascina.

 

Na noite desliza

Na pista de dança,

Sorrindo reprisa

Suave não cansa.

 

Em faces sedosas

As taças se cruzam,

As vozes melosas

Baixinho se escutam.

 

Meu Deus, tudo encanta!

Tão leve qual pena

A echarpe levanta!

Qual voo de falena.

 

Seus lábios soantes

Com leve sorriso,

De mãos afagantes,

De passo preciso.

 

Que sena mais bela

Na valsa dançando

Tão linda, singela,

Em ritmo tão brando.

 

Dançando levita

Com voz veludosa

Qual linda pepita.

É a filha ditosa.

 

Tão bela, tão santa,

Qual rosa ao relento,

Qual ave que canta

No vale do vento.

 

Que jovem é esta

Que flui calorosa

Na noite da festa

Bonita e formosa?

 

E a noiva domina

O alegre momento,

É a hora divina

Do seu casamento.

 

Antônio Fernandes do Rêgo

Natural de Natal (RN), é escritor, poeta e trovador. Participou de algumas antologias. Publicou três livros de poemas. É membro da ATRN – Academia de Trovas do RN, e da UBT – União Brasileira de trovadores. É membro, dentre outras Academias: Academia de Letras do Brasil – ABL/RJ – Campos dos Goytacazes; Núcleo Acadêmico de Letras e Arte de Portugal; Luminescense Academie Françoise des Arts Lettres et Culture. Angariou algumas premiações a nível nacional e internacional. (aferego@yahoo.com.br)