'Poema sem rima', de Claudia Lundgren
Poema sem rima
Vindo de mim, é incomum poetizar sem rimar
O emaranhado de palavras que não se casam
Se identificam com o momento em que vivo
Turbilhão de emoções em minh’alma
Sou solitária anciã
Trancada entre quatro paredes
Privada de ver meus filhos, netos
Qualquer outra pessoa, cachorros ou gatos
Olho pela fresta do muro a rua
Converso com a estática Mona Lisa
Desabafo com aquela foto antiga dos meus pais
Vou reclamar da vida com quem?
Engessada, algemada, quantos nós na garganta…
Tento me distrair, ligo o rádio, a televisão
E ainda mais me angustio
Meus gastos e rígidos joelhos já não conseguem se dobrar em oração
Me derramo em meus versos desconexos
Me transbordo sem métrica
Me desnudo em palavras escritas
Já que minha voz aguda ninguém é capaz de ouvir
Na minha face já não tem espaço para novas rugas
Os cabelos totalmente prateados
Não sou capaz de exteriorizar o que sinto
O meu ser inflado de tantas palavras não ditas e sentimentos que não exprimo
Quando eu puder novamente abraçar meu filho
Com certeza irei chorar de alegria
Dar aquele grito contido, falar descontroladamente
E também estarei desejosa, sedenta para ouvi-lo
Sou anciã, eremítica, isolada
Prolixa, uso a caneta para suprir minha solidão
Dependo de alguém para comprar meu pão
Junto as mãos, na esperança de que tudo irá passar.
Claudia Lundgren