Cláudia Lundgren: 'O patinho rouco'
O patinho rouco
E assim eu cresci…Me chamavam de pato rouco, diziam que minha dicção era péssima, me botavam o apelido carinhoso de Rod Stewart etc., etc., etc. E realmente, talvez por tudo isso, e também pela extrema timidez, eu sempre tive dificuldade de me expressar em público, e não gostava muito da minha voz. E tudo recai sobre ela, é incrível! Em situações complicadas, estressantes, ou naquelas que me sinto ansiosa, minha voz some. Quem me conhece a fundo já sabe, e não tem nem como disfarçar. Acabei criando esse complexo de “patinho rouco”.
Eu era a menina que ninguém queria no time. Eu não sabia jogar volley, basquete, handball, era uma negação. Todo mundo ia sendo escolhida, e eu lá. Meu boletim, sempre bom, mas a Educação Física…Sem comentários…
A menina cresceu, e sempre gostou muito de inventar estórias. A mulher as vezes ainda vive no mundo da lua. Ela nem parece ser desse mundo
Um dia, resolvi gravar um vídeo lendo um dos meus textos, e arrisquei publicar na rede. Normalmente, falo rápido, mas tentei controlar isso, e continuo tentando. Nossa! Alguém havia gostado da minha leitura! Nem acreditei!
E isso me incentivou a continuar gravando.
O pato rouco lê e todo o Brasil, exterior, quem estiver ao alcance da minha voz, ouve a minha voz semeando poesia. O patinho rouco lê obras de outros autores. Não sabia que minha voz tinha alguma beleza, até que alguém disse. Talvez não seja beleza, e sim, como na estória do Patinho Feio, seja somente diferente.
A menina que aguardava ser escolhida, hoje corre o mundo levando as estórias que cria. E sem ter que sair do lugar. A menina extremamente tímida hoje ajuda e incentiva outros a produzir arte.
Moisés usou seu pequeno cajado para abrir o mar vermelho. Davi, uma pequena pedra para matar Golias. Deus usa as pequenas coisas para confundir as grandes. Não subestime nada que há em você. Tudo é valoroso, até mesmo suas fragilidades. Ainda que sua voz se cale, você tem o papel e a caneta.
Claudia Lundgren
tiaclaudia05@hotmail.com