Cláudia Lundgren: 'Quando Alice chegar'
Quando Alice chegar
Quando Alice chegar, meu mundo terá cinquenta tons de rosa. Ela será o meu buquê perfumado, denso, oscilando entre os chás e os pinks.
Meu mundo, que há tempos era composto por carrinhos, bermudas e chinelos, pretos e azuis, agora terá também as cores da suavidade, e por que não também as excêntricas, como o roxo, o lilás, o vermelho, o laranja, e o verde e amarelo neon.
Está chegando Alice, aquele perfume doce e feminino. O universo de laços, vestidos, saias, tiaras e paetês; de pelos e plumas; do dourado e prateado; das melissinhas com cheirinho de tutti frutti; o universo poá.
Verei espalhados pelo chão da casa não só o Batman, mas também a Barbie. Pés de sapatos multicores. Batons destruídos, rostinhos borrados.
Quando Alice chegar, despertará em mim o lado mais tenro. Aquele meu mundo que, um dia foi róseo, mas abafou-se pelos 3 tons blues.
O azul requer mais pulso. É mais bruto, de pouca fala, mais objetivo, mais direto ao ponto. Gosto muito desse mundo, e confesso que me habituei a ele. Um mundo mais bagunçado, desleixado, e dark.
Mas, quando Alice chegar, aquele tom de voz feito a mão, de tricô rosa e branco, será em mim despertado. Aquele mundo mais poético, floreado. Mais penteado, aprumado. O bercinho com a bonequinha rosa de pano, aquele delicado chorinho envolvendo o azul do ambiente.
O perfume floral frutal que tanto gosto vou ganhar, com a chegada de Alice.
Claudia Lundgren
Em homenagem a minha neta Alice que nascerá em breve.